Título: Investimentos mantêm embalo
Autor: Sabrina Lorenzi
Fonte: Jornal do Brasil, 11/02/2005, Economia & Negócios, p. A17

Indústria volta a crescer e fecha 2004 no melhor nível em 18 anos. No BNDES, consultas para financiamento avançam 60%

Um novo ciclo de investimentos promete manter o embalo da indústria brasileira após o salto de 8,3% na produção no ano passado, o maior desde 1986, conforme divulgou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os investimentos no setor crescerão 60,5% em 2005, segundo projeções sobre as consultas por financiamento realizadas por empresários no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Este ano, a instituição prevê desembolsar R$ 25,3 bilhões para a indústria. Os investimentos em máquinas e equipamentos, transportes, construção e energia elétrica levaram o setor de bens de capital à maior produção em nove anos. No ano, houve aumento de 19,7% na produção de bens de capital sobretudo por conta dos investimentos na área de transportes (25,6%) e construção (38%).

Detalhamento da Pesquisa Industrial Mensal, do IBGE, mostra uma inversão na liderança dos bens de capital do primeiro para o segundo semestre. De janeiro a junho, a categoria cresceu embalada em encomendas para a agricultura (20,5%), mas, de julho a dezembro, houve corte de 5,2% dos produtos para o setor agrícola. O preço das commodities em queda e o dólar mais barato são citados pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas (Abimaq) como entraves para a atividade.

Por outro lado, a produção de máquinas e equipamentos para a indústria cresceram respectivamente 15,5% e de 16,5% nos dois semestres.

- Temos que considerar que parte disso se volta para exportações, mas mesmo assim é um bom indicativo de que a indústria continua investindo. Só não podemos dizer quem está investindo o suficiente - comentou Silvio Sales, chefe do Departamente de Indústria do IBGE.

Segundo o BNDES, a indústria de material de transporte executará o maior investimento do setor neste ano, a quem destinará R$ 9,2 bilhões. O segmento é um dos ramos que mais utilizam a capacidade instalada, com necessidade de novos investimentos, segundo a sondagem industrial da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Projetos em consulta no banco também indicam que as empresas de petroquímica e têxtil vão elevar em 122% e 83% os investimentos em 2005.

Melhor resultado em dezoito anos, o crescimento da indústria no ano passado foi verificado em 26 dos 27 segmentos pesquisados, segundo o IBGE.

- Toda a cadeia industrial cresceu, desde os produtores que exportam até os ramos mais dependentes da demanda interna - comenta Silvio Sales.

Ele destaca, como exemplo de segmentos beneficiados pela melhora no consumo das famílias, o salto de 33,6% na fabricação de máquinas para escritório e equipamentos de informática e de 11,9% dos produtos de perfumaria.

- Há um sinal de que estamos entrando num novo padrão de crescimento, mas voltado para os bens não-duráveis e a demanda interna - reiterou o economista, confirmando o que já havia previsto há um mês, na pesquisa anterior. Ele atribui a melhora do consumo interno ao aumento da massa salarial e do emprego.

As exportações, segundo ele, vão continuar sendo fundamentais para embalar a indústria em 2005, mas com menos vigor. Foi graças às vendas externas que fabricantes de fumo elevaram em 19% a produção.

O acréscimo de 0,6% em relação a novembro é o melhor desde agosto (1,1%) e embute desempenhos inesperados da indústria de bens de capital (1,6%) e de consumo não-duráveis (3,4%).

- A indústria, no final do ano, produziu como não se esperava. Não podemos falar mais em acomodação somente; é uma acomodação com crescimento - afirma Sales.

Os bens de consumo não-duráveis cresceram 4% no ano passado, no embalo da alta do consumo de carnes (cuja produção cresceu 14,3%), bebidas (5,8%), sucos (9,8%), e perfumaria e cosméticos (15,3%).