O Estado de São Paulo, n.46341, 02/09/2020. Metrópole, p.A24

 

Amazônia: menos fogo, mas 2º pior agosto

André Borges

02/09/2020

 

 

Foram 29.307 focos, volume 5% inferior aos 30.900 incêndios do mesmo mês de 2019

O Brasil encerrou o mês de agosto com o segundo pior resultado de queimadas na Amazônia dos últimos dez anos. Os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que foram registrados 29.307 focos de calor no mês passado, volume acima da média histórica de 26 mil focos para este mês, mas 5% inferior aos 30.900 do mesmo mês de 2019. Para comparação, em agosto de 2018 o Inpe relatou 10.421 focos de queimadas.

A expectativa do governo era de que houvesse um resultado diferente. Os militares estão na Amazônia desde 11 de maio, quando foi iniciada a Operação Verde Brasil 2, justamente com a missão de combater os crimes na floresta. A organização ambiental Observatório do Clima ressalta ainda que é preciso relativizar o número do mês passado, porque houve uma pane no satélite de referência usado pelo Inpe, o Aqua. Isso fez parte da Amazônia não ser observada no dia 16, produzindo um número baixo de detecções.

Para Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima, os números mostram que o resultado dessa operação tem sido inócuo. Entre maio e agosto, período de presença do Exército na Amazônia, o número de queimadas foi de 39.187, basicamente o mesmo de 2019 (38.952). “Os dados confirmam o fracasso da cara e mal planejada operação das Forças Armadas instituída na Amazônia pelo governo Bolsonaro como substituta de um plano de combate ao desmatamento”, diz.

Fiscalização. Por meio de nota, o Ministério da Defesa informou que intensificou a aplicação de multas por crimes ambientais na região. Nos últimos dias, o número de multas aplicadas aumentou 15%, passando para R$ 520 milhões arrecadados, valor que supera os resultados da Verde Brasil 1, realizada em 2019.

Segundo balanço divulgado pelo Ministério da Defesa na última quarta-feira, dia 26, foram realizadas até agora 26 mil inspeções navais e terrestres e 712 apreensões na Amazônia Legal. Nos postos de bloqueio e controle de estradas, foram retidos 211 veículos por irregularidades. Um total de 28,7 mil metros cúbicos de madeira ilegal também f oi confiscado; e apreendidas 791 máquinas de serraria móvel, tratores, maquinário de mineração, balsas, dragas e acessórios. Mais de R$ 520,8 milhões foram aplicados em multas e termos de infração.

Reportagem do Estadão já revelou que os dados da operação foram inflados com resultados de operações realizadas antes da criação da Verde Brasil 2. Essa informação foi admitida pelo próprio Ministério da Defesa, ao apontar que dados relativos a uma grande operação do Ibama realizada em abril foram incorporados aos balanços.

Desmate. O número de alertas de desmatamento na Amazônia em 2020 foi 34% maior do que em 2019. O dado oficial, a ser divulgado nos próximos meses, deverá indicar um desmatamento efetivo maior que 12 mil quilômetros quadrados entre agosto de 2019 e julho deste ano, três vezes mais do que a meta da Política Nacional de Mudança do Clima para 2020. O Brasil deverá ser o único dos grandes emissores de gases de efeito estufa a aumentar as emissões na pandemia, afastando-se também da meta do Acordo de Paris.