O globo, n.31901, 09/12/2020. Economia, p. 26

 

IPCA é o maior para novembro desde 2015

Raphaela Ribas 

09/12/2020

 

 

Os preços dos alimentos e combustíveis continuaram subindo, e a inflação de novembro ficou em 0,89%, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do IBGE. Com o resultado, o mais alto para o mês desde 2015, aumentaram as apostas de que a inflação oficial vai estourar o centro da meta fixada pelo governo, que é de 4%.

A meta tem margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. A inflação de novembro superou a expectativa do mercado, que previa um recuo em relação outubro (0,86%), com variação de 0,78%. Entre janeiro e novembro, o IPCA subiu 3,13% e, em 12 meses, 4,31%. Em novembro do ano passado, a alta foi de 0,51%.

Alimentos e bebidas lideraram os aumentos, com taxa de 2,54%. Dentro do grupo, oque mais pressionou foram as carnes, com alta de 6,28% no mês; abatata-inglesa, que subiu quase 30%; e oto mate, 18,45%. O arroz também ficou mais caro (6,28%), assim como óleo de soja (9,24%).

—Desde junho, temos tido variações positivas, puxadas pelos alimentos — explica Pedro Kislanov, gerente da pesquisa do IBGE.

Em doze meses, o preço dos alimentos acumula alta de 15,94%, com destaque para o óleo de soja, com 94,1%, e o arroz, 69,5%.

Segundo Kislanov, os preços dos alimentos continuam subindo tanto pela maior demanda interna, como pela menor oferta no mercado doméstico, já que muitos produtores direcionaram as vendas para o exterior.

— A soja foi influenciada pela alta do dólar, que tornou a exportação mais atraente. No caso do arroz, houve quebras na safra que impactaram o preço. Pela variação mensal, vemos que o arroz e óleo estão perdendo força. Para o próximo ano, estes itens devem se acomodar — diz Julia Passabom, economista do Itaú Unibanco.

Os combustíveis também pesaram no bolso em novembro. O preço da gasolina subiu 1,64% no mês, na sexta alta consecutiva. O etanol, por sua vez, ficou 9,23% mais caro.

Este mês, a inflação será pressionada pelos preços administrados, já que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou taxa extra nas contas de luz, levando economistas a revisarem a previsão para o IPCA do ano.

Segundo o último Boletim Focus do Banco Central, analistas revisaram a projeção de 3,54%, para 4,21%. Ainda assim, a expectativa do mercado é que a taxa básica de juros, a Selic, que está na mínima histórica de 2%, seja mantida na reunião no Comitê de Política Monetária (Copom) de hoje, a última do ano.

INPC SOBE MAIS

O INPC, que mede a inflação de famílias mais pobres, ficou ainda maior: 0,95% em novembro. O professor Luiz Roberto Cunha acredita que o índice pode chegar a 5% no ano. Ele explica que o INPC acima do IPCA pode afetar a capacidade do governo de administrar as despesas dentro do teto, já que muitos dos gastos obrigatórios são corrigidos pelo índice, como benefícios previdenciários e assistenciais.