O Estado de São Paulo, n.46341, 02/09/2020. Economia, p.B3

 

Consumo das famílias cai 12,5% no trimestre e puxa PIB para baixo

Jussara Soares

Julia Lindner

02/09/2020

 

 

Em meio ao isolamento social imposto pela pandemia de covid-19, a queda histórica no consumo das famílias foi um dos principais elementos por trás da parada na economia no segundo trimestre. O tombo de 12,5% em relação ao trimestre anterior, porém, teria sido ainda maior não fosse o auxílio emergencial.

O pagamento extra se traduziu na elevação do consumo de produtos básicos, impulsionando o desempenho no varejo de supermercados e farmácias.

Apesar da queda na indústria de transformação, a produção de alimentos, fármacos e produtos de limpeza registrou crescimento. Por outro lado, o isolamento atingiu em cheio o consumo de supérfluos e de serviços, especialmente aqueles prestados às famílias, como bares, restaurantes, hotéis, salões de beleza, academias e entretenimento em geral. O setor de serviços, que concentra quase 75% do Produto Interno Bruto (PIB), tombou no segundo trimestre 9,7% ante o primeiro trimestre do ano.

“Mesmo que eu quisesse sair de casa para cortar o cabelo, tinha uma restrição de funcionamento do salão de beleza”, lembrou Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Diante da impossibilidade de gastos com supérfluos, o auxílio emergencial pago pelo governo também aumentou a taxa de poupança no País, que subiu de 13,7%, no segundo trimestre de 2019, para 15,5% no segundo trimestre de 2020 – o primeiro avanço desde 2013.

Segundo Rebeca Palis, a poupança cresceu com um aumento nos depósitos das famílias, mas também de empresas, o que favoreceu o crescimento do setor financeiro no período, na contramão da maior parte das atividades econômicas.

“Obviamente, o auxílio nas camadas de baixa renda da população foi direcionado mais para o consumo do que para a poupança”, ressaltou Rebeca, lembrando que, além do auxílio emergencial, o crescimento de operações de crédito também ajudou a amenizar a queda já acentuada do consumo das famílias.

Para que a economia engrene uma recuperação sustentada, o diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), José Ronaldo de Castro Souza Jr., diz que é preciso também a retomada da agenda de ajuste fiscal em 2021. “A prorrogação do auxílio é importante para evitar essa quebra, com certeza ajuda a manter o nível de consumo. Mas é uma medida com um custo elevado, então só se sustenta até certo prazo.”

O Ipea estima uma queda de 6% no PIB brasileiro deste ano, mas a projeção deve ser revista até o final do mês.