Título: Muitos talentos a serem garimpados
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 27/09/2008, Opinião, p. A8

Os nobres ideais de inclusão social pelo esporte, complementação da educação pedagógica nas escolas e revelação de novos valores imprimiram energia para que se consolidassem os pilares da parceria entre o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e o Ministério do Esporte para a realização das Olimpíadas Escolares 2008. O evento aberto a jovens entre 12 e 14 anos ¿ realizado de 18 a 28 de setembro, em Poços de Caldas (MG) ¿ tem como meta aumentar a participação das instituições de ensino de todo o país e de seus alunos em torno da prática esportiva. COB e governo federal, na mesma direção, já manifestaram a crença de que ao educar a criança através da prática esportiva desde a escola, o jovem reforça seus ideais do movimento olímpico, constrói valores, conceitos, expande seu círculo social e, principalmente, vivencia a realidade.

A proposta desta parceria, como sublinhou o próprio COB em seu site, é a realização de um trabalho de longo prazo, envolvendo dois ciclos olímpicos, até dezembro de 2012. Da escola à universidade, jovens do Brasil inteiro estão aptos a participar das Olimpíadas Escolares e Universitárias que, a cada ano, serão realizadas em uma cidade brasileira. Esta primeira conta com cerca de 2.800 alunos, representando 800 instituições de ensino público e privado de 21 Estados. Estarão em disputa medalhas em nove modalidades: handebol, basquete, atletismo, futsal, judô, natação, tênis de mesa, vôlei e xadrez.

Mais do que oferecer a alunos a chance de uma competição em nível nacional, o evento é alentador para quem sonha com a plena inclusão social e, também, em transformar o Brasil em potência olímpica. Só nesta semana, o Jornal do Brasil publicou matérias com três meninos, Guilherme Fontanella (natação), Hugo Calderano (tênis de mesa) e Felipe Hernandez (vôlei), cujo talento despontou em Poços de Caldas. Dificilmente, convém ressaltar, esses atletas mirins teriam sido descobertos se não existisse o estímulo de uma competição desse porte.

Durante décadas, a prática desportista nas escolas públicas ¿ e, faça-se justiça, em grande parte das particulares também ¿ resumiu-se a "aulas de educação física", em quadras completamente sem condições de uso, nas quais o máximo que se fez foi dividir as turmas em dois para jogar futebol, voleibol ou brincar de queimado, com parcas orientações dos professores e em períodos que raramente ultrapassavam os 50 minutos. Muito diferentemente, por exemplo, dos países do antigo bloco socialista, inclusive Cuba, onde o esporte no ensino carregava a mesma importância que disciplinas como matemática.

O estímulo ao esporte nas escolas, com investimento em equipamentos, criação de competições interescolares, que levem crianças a terem vontade de passar mais tempo em aulas, poderia, além de despertar talentos e, a partir daí, pinçá-los para a prática esportiva de alto nível ¿ tirar do ócio jovens que, especialmente entre as camadas menos favorecidas, acabam se ocupando com atividades menos nobre e até mesmo criminosas.

É fundamental que o governo, através de integração entre Ministério da Educação e Ministério do Esporte, aprofunde os conceitos que levaram à realização das Olimpíadas Escolares com outras ações, de modo a alcançar a inclusão social pelo esporte.

Faz-se essencial, no entanto, que as partes envolvidas atentem para não cair, como já aconteceu anteriormente, em duas armadilhas: 1) deixar as competições virarem espaço para livre ação de empresários do esporte, que só visam o lucro em cima dos atletas; 2) realizar um ou dois eventos e deixar o projeto cair no esquecimento por falta de interesse ou mudança de gestão governamental.

Estão lançados os alertas.