O Estado de São Paulo, n.46342, 03/09/2020. Política, p.A12

 

Lava Jato em SP pede demissão coletiva

Paulo Roberto Netto

Fausto Macedo

Ricardo Galhardo

03/09/2020

 

 

Todos os integrantes da força-tarefa solicitam o desligamento a Aras; eles alegam 'incompatibilidades insolúveis' com procuradora

Os sete procuradores que integram a força-tarefa da Lava Jato em São Paulo assinaram ofício ao procurador-geral da República Augusto Aras solicitando desligamento dos trabalhos na operação até o final deste mês. A lista inclui a coordenadora do grupo, Janice Ascari. Os procuradores justificam haver "incompatibilidades insolúveis com a atuação da procuradora natural dos feitos da referida força-tarefa, Dra. Viviane de Oliveira Martinez". Segundo o grupo, Viviane não só se manteve "distante" da operação como "passou a opor resistência ao aprofundamento de investigações em curso".

Em ofício enviado ao Conselho Superior do Ministério Público Federal, os procuradores relatam dificuldades em trabalhar com Viviane, que assumiu o 5.º ofício da Procuradoria da República em São Paulo, responsável pela força-tarefa. Ela assumiu o posto em março deste ano, já na gestão Augusto Aras, após a promoção da então procuradora natural, Anamara Osório Silva.

Os procuradores destacam que desde o começo o envolvimento de Viviane "pareceu muito aquém do que se esperaria de um procurador natural", pontuando que ela nunca participou de reuniões com advogados e colaboradores, de audiências judiciais pertinentes a casos da

Lava Jato ou reuniões com delegados da Polícia Federal.

Segundo o grupo, em junho deste ano Viviane solicitou o adiamento de uma operação que atingiria o ex-governador de São Paulo, José Serra (PSDB), investigado por lavagem de propinas da Odebrecht nas obras do Rodoanel Sul. "Os signatários consideram inusitado que uma Procuradora com menos de dois meses de forçatarefa, e sem um forte engajamento com os casos, se colocasse como se já conhecesse em detalhes o complexo emaranhado de fatos sob responsabilidade da Lava Jato paulista, a ponto de dizer que investigações que se propunham não seriam conexas às que vinham sendo conduzidas", afirma o grupo.

Segundo o grupo, ao longo do primeiro semestre de 2020, a Lava Jato paulista se debruçou sobre "complexo esquema de lavagem de ativos" envolvendo o senador Serra que estaria relacionado a "ilicitudes praticadas nas obras do Rodoanel Sul". Foi nesse contexto que, em 11 de junho, sete peças com pleitos investigatórios foram concluídas para assinatura dos integrantes da força-tarefa.

"Surpreendentemente, contudo, apesar de não ter feito qualquer objeção à época das trocas de minutas, a procuradora Viviane enviou um e-mail, em 12/06/2020, aos demais integrantes da força-tarefa, pedindo que as peças fossem recolhidas do (Sistema) Único, e que a operação planejada fosse adiada", apontam os procuradores. A atitude deixou a percepção à força-tarefa que a procuradora "estava movida pelo intento central de reduzir drasticamente seu acervo, seja alegando que parte dele teria sido distribuída  irregularmente, seja pedindo para que novas investigações não fossem conduzidas". Viviane não foi localizada ontem.

Baixas. A debandada da Lava Jato paulista foi anunciada um dia depois do coordenador da força-tarefa da operação no Paraná, Deltan Dallagnol, declarar que estava deixando a operação, alegando motivos pessoais. A saída dos procuradores também ocorre em meio a reveses da Lava Jato paulista em investigações. Na semana passada, o ministro Gilmar Mendes, do STF, suspendeu a ação penal que mira Serra.

 • Fabrício Queiro

A Procuradoria-geral da República enviou manifestação ao ministro Gilmar Mendes, do Supremo, pedindo que o ex-assessor Fabrício Queiroz seja mandado de volta para a prisão.