Título: Figura de Chávez continua levantando debates
Autor: Almeida, Rodrigo de
Fonte: Jornal do Brasil, 27/09/2008, Internacional, p. A21

E Hugo Chávez? Herói para uns, farsa para outros, o presidente venezuelano foi motivos de embates e polêmicas na Conferência da Academia da Latinidade. O filósofo italiano Gianni Vattimo, professor da Universidade de Turim, ressaltou a importância chavista contra um ambiente de inércia e apatia da política tradicional:

¿ Na América Latina, nos EUA ou na Europa, as massas não crêem mais na política ¿ disse Vattimo, sublinhando o papel dos mitos para a sustentação de utopias e crença política.

O cientista político Candido Mendes reagiu:

- Que tipo de respeito democrático pode ter este senhor (Chávez) que deseja garantir perpetuidade no poder? ¿ questionou o brasileiro. ¿ Toda revolução tem um sentido de coletividade. Chávez não sabe o que é isso. Veja o massacre democrático, o continuísmo político, o assassinato dos sindicatos. Não estamos diante de um mito, mas um simulacro do mito.

Discórdia

Presente à mesa, o venezuelano Rafael Sánchez, professor do Centro de Estudos Latino-americanos e Estudos Caribenhos da Universidade de Nova York, tratou dos mitos criados pelo chavismo. O título de sua palestra diz tudo: "Pomo da discórdia: violência, monumentalidade e o Estado como detetive na Venezuela de Chávez".

¿ O chavismo tem seu "Che Guevara" como Platão tem "Sócrates", Nietzsche, "Zaratustra" ou, para o que importa, "Bolívar" ¿ exemplificou Sánchez, referindo-se, por último ao herói nacional venezuelano, Simon Bolívar, sempre usado por Hugo Chávez. ¿ Isto é para dizer que Che Guevara e outras figuras de identificação mimética são insistentemente mostradas pelo movimento chavista como forma de mobilização.

Para o professor da NYU, como para outros intelectuais presentes, há hoje uma fratura da experiência democrática no mundo.

¿ A noção de futuro está em crise ¿ resumiu.

O uruguaio Enrique Larreta concorda. Para ele, os mecanismos tradicionais existentes não dão conta das mudanças nas sociedades, resultado das novas dinâmicas culturais. Por mais legítimas que sejam, as formas tradicionais da democracia representativa foram insuficientes para integrar os excluídos. Daí a idéia de uma democracia profunda, ou democracia ampliada, que tem na Venezuela, na Bolívia e no Equador possibilidades de resistência. Mas com equívocos, como lembra Candido Mendes

¿ Chávez usurpou mecanismos da democracia para tentar se perpetuar.