Correio braziliense, n. 21017, 09/12/2020. Política, p. 2

 

Centrado na busca pela Presidência da Câmara

Denise Rothenburg 

09/12/2020

 

 

Em política, há um ditado que diz, "fato que cria perna ninguém segura". E, nesse contexto, o líder do PP, Arthur Lira (AL), já caminhou muito para, agora, desistir da disputa em nome de algum ministro do governo ou qualquer plano B. O grupo dele calcula conseguir 180 votos como ponto de partida. Já tem, hoje, as bancadas de PP, PL (antigo PR) e PSD, que compõem o núcleo do Centrão, e outros pequenos partidos. Nesta semana, o parlamentar começou a procurar, mais abertamente, os partidos de esquerda e ainda investe em legendas ligadas ao atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). "Não tem mais recuo" é a frase que mais se ouve entre os partidários do deputado alagoano, que se sente fortalecido e com vantagem diante da pulverização de candidaturas no grupo de Maia. A resposta de rival será tentar, ainda nesta semana, formar um bloco para segurar as siglas e evitar que o grupamento se esfarele.

Até o momento, são três forças na Casa, que ainda não têm tamanho definido nem fronteiras. A esquerda terá um nome, nem que seja apenas um deputado do PSol. Da centro-esquerda até a direita, estão Lira e a turma de Maia, que se divide em, pelo menos, cinco pré-candidatos, que se apresentaram para a disputa antes de o Supremo Tribunal Federal (STF) decidir que não haveria reeleição para o comando das duas Casas. Baleia Rossi (MDB-SP), Marcos Pereira (Republicanos-SP), Luciano Bivar (PSL-PE), Elmar Nascimento (DEM-BA) e Aguinaldo Ribeiro (PP-PB).

Desses nomes, Baleia Rossi é visto como o que tem mais chances de agregar. E ele desloca-se, silenciosamente, em busca de votos. Tem entre seus generais, nos bastidores, o ex-presidente Michel Temer, com a experiência de quem já presidiu a Câmara por três vezes. O grupo de Lira aposta que Baleia Rossi é o candidato com mais musculatura. Não por acaso, o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), tenta selar um acordo para que Baleia Rossi desista da candidatura e, com esse gesto, sirva de anabolizante para uma candidatura do MDB à Presidência do Senado. O líder do MDB no Senado, Eduardo Braga, já anunciou que sua bancada pleiteia o cargo.

Os emedebistas não toparam essa proposta. Nos bastidores, dizem que, se o Democratas governou Câmara e Senado neste primeiro biênio, por que o MDB não pode fazer isso no segundo? O problema é que, da primeira vez, no Senado, o DEM se aproveitou do movimento gerado pelos bolsonaristas e do Muda Senado contra Renan Calheiros. Agora, com o presidente Jair Bolsonaro de volta ao leito da política, os partidos que rejeitam os emedebistas não terão a mesma força para barrar um candidato da sigla no Senado.

Independente
Além de tentar cavar um impedimento para tirar o MDB da disputa na Câmara, os aliados de Lira jogam para que, quando Maia apostar em um desses cinco, os outros possam se bandear para o apoio ao pepista. Daí, o artigo publicado, ontem, por Lira, na Folha de S. Paulo, em que defende harmonia entre os Poderes, pregando independência sem isolamento. O artigo é uma resposta à entrevista em que Maia anunciou que apostará num sucessor que seja independente em relação ao governo e elencou os cinco candidatos. Não citou Lira.

As intensas conversas nos bastidores para a formação dos blocos não resultaram, ainda, em vantagem para o grupo de Lira. O PSB, que ele procurou, não tomará nenhuma decisão sem conversar com o PDT. O partido de Ciro Gomes, porém, não deseja, nem de longe, ficar ao lado de um nome do Centrão aliado a Bolsonaro. Tampouco deseja seguir totalmente alinhado ao MDB.
Enquanto esse quebra-cabeça não fecha, a maioria dos pré-candidatos age da mesma forma que o presidente do PSB, Carlos Siqueira, se posiciona em relação à disputa: "Está cedo para tomarmos qualquer decisão a respeito", diz ele, com cara de quem vai esperar para ver quem será mesmo candidato, em meados de janeiro, ou quando da formação das chapas. O risco, porém, é demorar muito para fazer parte de um bloco e, quando chegar para conversar, as melhores vagas já estejam ocupadas.

Enquanto o partido não se pronuncia oficialmente, integrantes da bancada vão se alinhando a alguns candidatos. Prefeito eleito de Maceió, JHC obteve o apoio de Lira no segundo turno e, agora, defenderá o aval ao conterrâneo dentro do partido. O líder do PP, no entanto, não poderá contar com o voto do prefeito, que deixa o mandato este mês, a fim de se preparar para a posse. O suplente é Pedro Vilela, do PSDB, cuja sigla é mais ligada ao grupo de Maia do que ao Centrão. Até ontem, era considerado certo no bloco em que estiver o DEM. Mas como o voto é secreto, Lira continuará apostando em rachar essas bancadas. Afinal, ele trabalha esse projeto há tempos e não vai recuar a menos de dois meses da eleição.

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Bolsonaro fala em "harmonia"

09/12/2020

 

 

O presidente Jair Bolsonaro destacou, ontem, que há uma “perfeita harmonia” entre Executivo e Legislativo. Em evento no Planalto, ele disse que o governo tem um “excelente entrosamento” com a Câmara e o Senado. A relação com o Parlamento e a aprovação de matérias apoiadas pelo governo melhoraram em meados de junho, após a aproximação com o bloco do Centrão, atual base da gestão Bolsonaro. “Realmente o governo está dando certo. Temos, hoje em dia, um excelente entrosamento com a Câmara e com o senado. Temos esse contato maravilhoso. Cada vez melhor”, afirmou. “Há pouco tempo, anos, tínhamos problemas, uma briga quase fratricida entre irmãos. Hoje, tem um perfeito relacionamento entre nós (Executivo e Legislativo), e ninguém vai destruir esse nosso relacionamento, porque nós temos como norte o Brasil acima de tudo.”