Correio braziliense, n. 21017, 09/12/2020. Artigos, p. 11

 

A força do nosso futuro

Izalci Lucas 

09/12/2020

 

 

O que temos hoje nas áreas da educação, no desenvolvimento científico, tecnológico e na indústria de transformação confirma, mesmo, a nossa condição de país de terceiro mundo.

O reconhecimento internacional de país mais rico da América Latina não pode ser comemorado, quando nos situamos proporcionalmente aquém de alguns vizinhos também considerados como países em processo de desenvolvimento.

Se nos compararmos ao Chile, por exemplo, nos campos do desenvolvimento e geração de riquezas e que só não nos alcança em função do seu exíguo território, verificamos que é lá que se pratica a melhor educação da América do Sul, enquanto nós amargamos a classificação de pior sistema do Continente.

A situação é lamentável, mas deve nos motivar a trabalhar ainda mais, para uma melhor qualificação do nosso sistema educacional. Demonstração disso foi a vitória recente que obtivemos no Senado, não só para a educação, mas também para a ciência, tecnologia, pesquisa e inovação do país, com a aprovação do projeto de lei 172/2020 que permite o uso de recursos do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações para a implantação de internet de banda larga nas escolas, e a melhoria da infra-estrutura de telecomunicações nas zonas rurais, fato que também contemplará as escolas localizadas naquelas áreas, cujas carências pedagógicas são ainda maiores.

Esse projeto do Fust nos motiva ao trabalho que temos pela frente em favor da nossa educação de base e do ensino técnico com qualidade para todos, ambos fundamentais para a formação profissional e da cidadania.

Do ponto de vista econômico, é chegado o momento de entendermos que a indústria tecnológica é hoje propulsora da indústria da transformação, ambas de alto potencial na geração de emprego e renda. Por esta razão, faz-se urgente a adoção de políticas públicas de fomento para as áreas de ciência e de tecnologia que incentivem a criação de polos tecnológicos regionais, como este que lançamos 10 anos atrás aqui no DF, à frente da Secretaria de Ciência e Tecnologia, que, infelizmente, até hoje, não evoluiu e poderia ter colocado a nossa capital como referência nacional do setor.

Por estas razões, já é tempo de pensarmos, por exemplo, que as exportações de matéria prima em larga escala — importantíssimas na sustentação da nossa base econômica — não podem tirar o foco da necessidade de ações políticas que incentivem o desenvolvimento industrial, para que possamos ser mais estratégicos no mercado externo. É chegada a hora de deixarmos de ser apenas um país que produz e exporta minérios, madeiras, leguminosas, frutas e carnes, mas um país que venderá produtos e alimentos para o consumo final.

Para isso, a indústria da transformação, impulsionada e incentivada por políticas públicas competentes terá o condão de transformar a nossa realidade sócio econômica, valorizando algumas das nossas "commodities"— não todas, obviamente — que seriam transformadas em produtos com maior valor agregado.

Contudo, devemos ter sempre presente que as condições que deram origem ao desenvolvimento dos grandes países tiveram origem na atenção dada por eles à educação. Exemplo disto é o Canadá, país rico, admirado pelos índices de desenvolvimento humano e que ostenta hoje alto grau de eficiência na área de TI e um dos maiores parques industriais de tecnologia do mundo.

A educação, além de responsável pelo desenvolvimento social e econômico, é a mola mestra da cidadania, gerada pelo discernimento e pela inteligência. E, a preservação de um Estado Democrático de Direito, alicerçada em um eficiente sistema educacional, nos permitirá a concretização do sonho de promovermos o Brasil à condição de país desenvolvido, rico de fato, politicamente forte e respeitado no contexto das nações.