Título: Briga interna começou com prisão frustrada
Autor: Quadros, Vasconcelo
Fonte: Jornal do Brasil, 28/09/2008, País, p. A10

A prisão e afastamento do delegado Romero Menezes da poderosa Diretoria Executiva (Direx), de onde emanam as megaoperações, foi o episódio mais constrangedor vivido pela Polícia Federal nos últimos anos. A notícia foi dada a ele pelo diretor-geral, Luiz Fernando Corrêa, às 9h50 do último dia 16, no momento em que o delegado chegava ao trabalho. Mas não era só isso: a ordem judicial mandava devassar os endereços do delegado em busca de documentos que pudessem amparar as suspeitas levantadas pela própria PF do Amapá e pelo procurador da República Douglas Araújo.

Número 2 na hierarquia da PF, a vida de Menezes virou do lado avesso. De perfil insuspeito, investigador competente, coordenador de mais de 100 grandes operações nos últimos cinco anos e homem de confiança do diretor-geral e do governo, o delegado passou à condição de investigado como suspeito de vazamento de informações sigilosas em benefício do empresário Eike Batista, o principal alvo da Operação Toque de Midas. Foi acusado também de manter uma sociedade informal com o irmão, José Gomes de Menezes Júnior, numa empresa que presta serviços ao Grupo EBX, a Serv-Sen, e ainda de ter praticado advocacia administrativa para favorecer o irmão.

Júnior havia requisitado autorização da PF do Amapá para atuar como empresa de vigilância privada, mas o processo estava engavetado havia cerca de um mês, quando a resposta normalmente é dada em uma semana. Menezes admite que telefonou para o superintendente e solicitou que este cumprisse sua obrigação, dando uma resposta, ainda que fosse para negar a autorização. Diz que atendeu o pleito de um cidadão e que, se necessário, faria de novo. Sua interferência foi interpretada por Fontel como pressão. Também foi debitado uma irregularidade não comprovada na transferência de uma delegada.

¿ A verdade pode demorar, mas ninguém conseguirá subvertê-la. Será fácil provar que sou inocente. Até o monitoramento (grampo) no telefone do meu irmão e no meu vai ajudar ¿ garante o delegado.

Sem mágoas

Ao mesmo tempo em que admite ter ficado magoado com as suspeitas levantadas, Menezes se diz aliviado por saber que as investigações, sob a responsabilidade do Corregedor-Geral da PF, José Ivan Lobato, serão isentas, profundas e rápidas. Atribui o episódio ao conflito que, desde o início da atual gestão, marcou seu relacionamento com o superintendente do Amapá, Anderson Rui Fontel.

¿ Ele é despreparado para o cargo e vinha insistindo em descumprir ordens da direção geral. Aproveitou para construir tudo isso contra mim ¿ diz o diretor afastado, que não poupa críticas também aos delegados e ao procurador Douglas Araújo, que investigaram a Operação Toque de Midas e depois pediram sua prisão. ¿ Foi má intenção mesmo e canalhice.