Título: Limpo, número 2 deve voltar à PF
Autor: Quadros, Vasconcelo
Fonte: Jornal do Brasil, 28/09/2008, País, p. A10

Investigações nada apuram sobre denúncias e corporação será obrogada a rever métodos.

BRASÍLIA

Perícia nos computadores da Polícia Federal, que deve ser concluída nos próximos dias, será a peça decisiva para esclarecer o caso envolvendo o delegado Romero Menezes, o diretor-executivo preso e afastado do cargo há duas semanas por suspeita de vazamento, corrupção e advocacia administrativa. As investigações ainda estão em curso. Mas, até agora, não surgiu fato que confirme as principais acusações levantadas contra ele pelos próprios colegas da Superitendência do Amapá.

O que começa a ganhar corpo dentro do órgão é a possibilidade de Menezes voltar ao cargo, a exemplo do ocorreu com o ex-ministro da Casa Civil, Henrique Hargreaves, afastado pelo então presidente Itamar Franco por suspeita de envolvimento com desvio de verbas do Orçamento da União em 2003. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também considera a possibilidade de reconduzir ao comando da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) o delegado Paulo Lacerda, caso não seja provado que ele ou a agência tenham envolvimento com o grampo no telefone do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes.

Embora ainda seja cedo para uma conclusão, o diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa diz que se nada ficar provado, por uma questão de justiça, sua obrigação é reconduzir Menezes, seu amigo e braço direito. A assessores, o diretor tem dito que "está sangrando". Mas que o episódio, além de mostrar que não há privilégios quando se trata de cumprir ordem judicial, demonstra o grau de profissionalismo num episódio do qual se deverá tirar lições.

¿ Não estou colado à cadeira. Mas é um direito meu reassumir, a menos que o ministro não queira. Permanecer no cargo é outra história ¿ disse o delegado Menezes.

No dia seguinte à prisão, o ministro da Justiça, Tarso Genro, considerou a medida desnecessária, disse que mantinha a confiança no delegado. No entanto, opinou que ele não deveria retornar, em decorrência do tempo em que normalmente dura uma investigação. Na corporação, o eventual retorno é visto como reconhecimento de que o delegado é inocente. Menezes teria também uma alternativa honrosa de se despedir da corporação com a ficha limpa.

Caso isso aconteça, as investigações deverão sofrer uma curiosa reviravolta. Menezes poderá processar seus próprios colegas e o procurador que pediu sua prisão por denunciação caluniosa e a Polícia Federal ¿ que se tornou popular por prender criminosos que não conheciam cadeia ¿ terá de rever seus métodos para evitar que inocentes sejam apresentados como culpados.

Uma absolvição colocaria em xeque, também, uma das principais promessas da direção atual, que é melhorar a qualidade da prova contra suspeitos para evitar a impunidade. Essa é uma das principais recomendações do novo manual de conduta policial em vigor há um ano.

Os problemas de Menezes com o comando da PF no Amapá começaram no início de julho, quando ele questionou os delegados Fábio Tamura e Dorival Ranucci sobre a consistência dos indícios apresentados para pedir a prisão do empresário Eike Batista, dono do Grupo EBX, acusado de envolvimento com fraudes na concessão de uma estrada de ferro no Estado.

¿ O que havia era apenas uma notícia crime que precisava ser trabalhada. A menos que eles me tenham sonegado informações, não havia competência no conjunto apresentado ¿ diz Romero, que recomendou aos policiais que se concentrassem nos mandados de busca, mas não dessem ao caso conotação de operação.

Poucos dias depois, contrariando a direção em Brasilia, o superintendente do Amapá, Rui Fontel, ocupava os veículos de comunicação para anunciar a Operação Toque de Midas. O então poderoso chefe da Direx entraria na mira como suspeito de vazar a operação.