O globo, n.31902, 10/12/2020. País, p. 11

 

Maia fecha aliança com seis partidos que somam 157 votos

Paulo Cappelli 

10/12/2020

 

 

O grupo do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), anunciou ontem a formação de um bloco para estar junto na sua sucessão na próxima legislatura. O grupo formado por DEM, PSL, MDB, PSDB, Cidadania e PV reúne 157 deputados. O próximo passo com vistas à eleição de 1º de fevereiro é escolher o candidato do grupo, que teve a defecção ontem do Republicanos.

Os três mais cotados são os deputados Elmar Nascimento (DEM-BA), Baleia Rossi (MDB-SP) e Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) — este último é do partido de Arthur Lira, rival de Maia na disputa, mas é mais próximo do atual presidente da Casa. Também almeja ser o candidato desse bloco o presidente do PSL, deputado Luciano Bivar. Apesar de ter fechado a aliança com Maia, o partido, o segundo maior na Câmara — 52 parlamentares — dificilmente conseguirá entregar todos os votos, pois a bancada é desde o ano passado rachada entre deputados ligados a Bivar e o os que são mais próximos do presidente Jair Bolsonaro, que apoia Lira. O PSL atualmente integra um bloco com PROS e PTB, que será desfeito pela divisão dos partidos na disputa pela presidência da Câmara.

O líder do DEM, Efraim Filho (PB), disse que a intenção do grupo é definir o nome do candidato nos próximos dias.

—Foi a largada para articulação da sucessão. A escolha do nome virá na sequência, e deverá ser feito até o final desta semana. O nome será resultado do diálogo entre as forças que compõem o bloco.

INDPENDÊNCIA

Ontem, Rodrigo Maia voltou a fazer seu principal discurso de campanha: dizer que Arthur Lira não terá independência do governo federal ao comandar a Câmara. Maia disse que o presidente Jair Bolsonaro está “desesperado” para “tomar a presidência da Câmara” e tocar pautas armamentistas, de costumes e que flexibilizem regras ambientais. Para ele, não faria sentido o governo investir na candidatura de Lira, se a preocupação fosse apenas a pauta econômica, tendo em vista que os pré-candidatos de seu bloco têm alinhamento à agenda econômica do governo federal.

— O governo está desesperado para tomar conta da presidência da Câmara e desorganizar a agenda ambiental, flexibilizar venda de armas e tocar pautas de costumes que digam respeito às minorias. O que é legítimo, porque ele (Bolsonaro) se elegeu com essas pautas. Eu, no entanto, defendo outras pautas, como redução do desemprego e das desigualdades — afirmou, em entrevista coletiva realizada na Câmara.

Maia disse ainda que a oferta de cargos pelo Planalto para atrair votos de deputados faz Bolsonaro “rasgar seu próprio discurso para tentar vencer a eleição”.

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Insatisfeito, Republicanos deixa bloco 

10/12/2020

 

 

> Presidente nacional do Republicanos, o deputado federal Marcos Pereira (SP) decidiu não integrar o bloco de Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados que articula uma chapa para disputar o comando da Casa com Arthur Lira (PP-AL), que tem a preferência do presidente Jair Bolsonaro. Pereira era apontado como um dos possíveis candidatos a serem apoiados por Maia, mas desistiu ontem da composição.

> — Reuni a bancada hoje pela manhã, e decidimos não aderir ao bloco do Maia porque não vamos entrar em um jogo já jogado. Entendemos que esse jogo já está todo combinado — disse Pereira.

> O GLOBO apurou que há insatisfação na bancada do Republicanos.

Deputados da legenda argumentam que Maia estaria privilegiando a candidatura de Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) em detrimento dos demais postulantes ligados ao bloco. A costura envolveria o apoio de deputados do PSL a Aguinaldo.

> A saída de Pereira do bloco ocorre num momento em que o Planalto estaria oferecendo cargos para o Republicanos aderir à candidatura de Lira. A avaliação do núcleo do deputado do PP é que o apoio da legenda de Pereira praticamente garantiria a maioria necessária para chegar à presidência da Câmara.

> Pereira nega que o governo tenha lhe oferecido cargo em troca da composição:

> — Ninguém do Planalto ou ligado ao presidente esteve comigo para falar sobre presidência da Câmara. Nem me lembro da última vez em que estive com Bolsonaro.