O globo, n.31902, 10/12/2020. Sociedade, p. 14

 

Guerra contra a covid

Paula Ferreira 

Leandro Prazeres 

10/12/2020

 

 

Após dizer que a Anvisa levaria até 60 dias para aprovar um imunizante contra a Covid-19, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, mudou de tom ontem e afirmou que a vacinação no país pode começar ainda neste mês ou em janeiro.

—Se a Pfizer conseguir a autorização emergencial e nos adiantar alguma entrega, isso (o início da vacinação) pode acontecer no final de dezembro ou em janeiro. Isso em quantidades pequenas, de uso emergencial — afirmou o ministro à CNN Brasil, um dia depois de sofrer intensa pressão de governadores e prefeitos. — Isso pode acontecer com a Pfizer, com o Butantan (referindo-se à vacina CoronaVac), com AstraZeneca (vacina de Oxford), mas é foro íntimo da desenvolvedora, não é uma campanha de vacinação.

No caso da Pfizer, disse Pazuello, o primeiro passo é fechar o contrato com o governo, ainda em negociação. Depois, a farmacêutica, que foi a primeira a conseguir aprovação para uso emergencial no Ocidente, precisa obter registro para uso na Anvisa e adiantar a entrega de sua vacina. Segundo ele, 500 mil doses chegariam em janeiro. O contrato em negociação prevê a aquisição de 70 milhões de doses pelo Brasil.

A Pfizer, no entanto, afirmou que só consegue entregar o produto ao Brasil em janeiro — já que países como Reino Unido e Canadá fecharam antes a compra, e por isso levaram o imunizante mais cedo.

Já a Anvisa afirmou ao GLOBO que, “até o momento, não houve pedido de uso emergencial de vacina pela Pfizer”. Por isso, “não é possível falar em prazos”.

À CNN Pazuello afirmou que a Anvisa analisará os pedidos de registro que chegarem, e o país já deverá ter doses entregues quando o aval definitivo for dado.

— Se esse registro chegar para nós em janeiro, já teremos doses da Pfizer e da AstraZeneca entregues. Se o Butantan já tiver o registro, teremos a do Butantan também —afirmou o ministro.

Segundo Pazuello, o Ministério da Saúde está fechando acordos com as companhias aéreas para viabilizar a logística da distribuição, e “a partir daí os estados recebem, fazem as ações nas capitais e a distribuição para o interior, até os municípios, que executam efetivamente a vacinação”.

No plano preliminar de vacinação do governo brasileiro, divulgado na semana passada, a campanha começaria apenas em março.

PRESOS SEM PRIORIDADE

No fim da tarde de ontem, o ministério divulgou uma nota afirmando que o plano de imunização definitivo “será apresentado em breve ”. No mesmo comunicado, a pasta apresentou um slide que confirma a exclusão de pessoas privadas de liberdade dos grupos prioritários de vacinação, conforme informou o colunista do GLOBO Lauro Jardim.

A decisão de retirar os detentos do grupo prioritário não teve o aval da responsável pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI), Francieli Fantinato. Interlocutores ouvidas pelo GLOBO afirmam que somente depois que a mudança foi tornada pública é que o comando da pasta pediu que fosse elaborada uma justificativa técnica para excluir os presos. Fantinato manifestou a colegas que é contra a medida e que se recusava a elaborar qualquer justificativa para a decisão, segundo esses interlocutores. Internamente, ela comunicou que a manutenção dos presos no plano era “importantíssima” porque eles fazem parte dos chamados grupos de risco.

A preocupação coma saúde de detentos e demais pessoas privadas de liberdade vem sendo expressada por diversas entidades que atuam na defesa dos direitos humanos e por órgãos como o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) desde o início da epidemia. O temor é que a doença se espalhe entre os presos, muitas vezes submetidos a condições degradantes e com deficiências em seus sistemas imunológicos.

Procurado, o Ministério da Saúde afirmou em nota que a pasta ainda está definindo os grupo seque não há estudos suficientes para classificar detentos e outras pessoas privadas de liberdade como prioritários para a imunização contra a Covid-19.