O globo, n.31903, 11/12/2020. País, p. 6

 

Rota tumultuada

Julia Lindner 

11/12/2020

 

 

Apesar de alguns senadores avaliarem como traumática a última disputa à presidência do Senado, em 2019, as tratativas para a sucessão de Davi Alcolumbre(DEM-AP) caminham para um novo confronto aberto na Casa e com um nível de dificuldade maior para que o atual titular consiga fazer seu sucessor.

Barrado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Alcolumbre tenta viabilizar o nome de Rodrigo Pacheco (DEM-MG) e deve ter de enfrentar o MDB, que tem a maior bancada. Mas, agora, o presidente da Casa corre o risco de ficar sem o apoio do Palácio do Planalto, como conseguiu em 2019, e não deve ter o do movimento independente Muda Senado, cuja bancada tem 15 integrantes e foi importante para garantir sua vitória contra Renan Calheiros no ano passado.

Logo após receber o resultado do STF, que o impediria de tentar a reeleição, o presidente do Senado conversou por telefone com Pacheco e sugeriu a possibilidade de lançá-lo candidato. Ele vê o colega do DEM como o seu “sucessor natural” por ser seu correligionário e possuir trânsito no Executivo.

Antes da decisão da Corte, a avaliação era que Alcolumbre venceria com folga. Pego de surpresa, tenta articular a sucessão se preparando para enfrentar partidos que antes lhe prometiam respaldo. Focado no tema, não presidiu nenhuma sessão nesta semana.

Membro do DEM, que possui seis cadeiras, o presidente do Senado tenta costurar uma aliança com partidos maiores, como MDB (13) e PSD (12), a fim de uma candidatura mais consistente. As duas legendas, no entanto, insistem em pleiteara vaga comum de seus quadros, por possuírem as maiores bancadas da Casa.

— Nós não temos nenhum acordo para apoiar Rodrigo Pacheco. O PSD tem três nomes colocados: o senador Antonio Anastasia, eu, Otto Alencar, e Nelsinho Trad. Nós vamos escolher qual nome vai representar o partido em reunião da bancada, que tem compromisso de seguir unida. — disse o líder do PSD no Senado, Otto Alencar (BA).

Embora tenha preferência desde o início por Pacheco, Alcolumbre chegou a cogitar apoiar Anastasia, mas o parlamentar reluta em entrar em uma disputa tão dividida, como a que se desenha. O senador do PSD já sinalizou preferência por Pacheco ou pela emedebista Simone Tebet (MS).

Na última terça-feira, Alcolumbre teve um encontro com o presidente Jair Bolsonaro e saiu de lá com o compromisso de apresentar nos próximos dias o nome do seu candidato para que o Planalto avalie.

Entre os nomes do MDB cotados para enfrentar o candidato de Alcolumbre, porém, estão dois líderes do governo: no no Congresso, Eduardo Gomes (TO), e no Senado, Fernando Bezerra (PE), além de Eduardo Braga (AM). Se um dos líderes for de fato candidato, o cenário fica estreito para que o Planalto apoie abertamente o nome de Alcolumbre. Em conversas reservadas, emedebistas afirmam que não abrirão mão da disputa.

O outro nome do MDB é o de Simone Tebet. Ela não tem o apoio majoritário da bancada, mas pode ser uma alternativa aos parlamentares que se apresentam como independentes e está disposta a tentar uma candidatura avulsa. Poderia agradar, por exemplo, os integrantes do movimento Muda Senado, que tem 15 senadores formalmente associados. No momento, entretanto, o grupo também tem intenção de lançar candidatura própria.

NOMES NO PÁREO

Seis senadores do grupo indicaram a intenção de disputar: Alessandro Vieira (Cidadania-SE), Alvaro Dias (Podemos-PR), Lasier Martins (Podemos-RJ), Major Olímpio (PSL-SP), Jorge Kajuru (Cidadania-GO) e Mara Gabrilli (PSDB-SP). Eles admitem que podem desistir se verificarem que não possuem chances de vencer.

—Precisamos saber, primeiro, se temos potencial para chegar no segundo turno. Depois, queremos um candidato que comungue com nossas pautas. Só aceitaremos nome de fora se ele corresponder à metade ou mais da metade das posições do Muda Senado — disse Lasier Martins.

Em 2019, Alcolumbre surpreendeu ao bater Renan Calheiros (MDB-AL). Na época, o presidente do Senado teve respaldo do Planalto por meio do então ministro da Casa Civil,Onyx Lorenzoni (DEM ), e de parlamentares independentes. Agora, é criticado pelo Muda Senado e não tem garantia de apoio do governo.

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Blocos formados por Maia e Lira já têm dissidências 

Paulo Cappelli 

11/12/2020

 

 

Apesar de o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e de Arthur Lira (PP-AL), candidato ao posto, terem anunciado que têm ao lado blocos partidários com cerca de 30% da Casa — no caso de Maia, o nome que ele vai apoiar na disputa —, dissidências já começam a se formar.

Maia, que teve a reeleição barrada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), formou um grupo com DEM, PSL, MDB, PSDB, DEM, Cidadania e PV, em um total de 157 deputados, com base na bancada eleita em 2018.

No PSL, no entanto, o apoio do presidente Jair Bolsonaro a Lira já começou a dar resultados.

—Lira está alinhado com o presidente Bolsonaro e já disse que botará para votar as pautas do governo. Algumas pessoas argumentam que ele responde a processos. Mas, processos na Justiça, muitas pessoas têm. Caso ele seja condenado, tem que pagar, mas não se pode prejulgar — afirmou o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ), da ala bolsonarista do partido.

Lira, por outro lado, anunciou ter recebido o apoio de PSD, Pros, Avante, Patriota, PL, SD e PSC, que somam 160 deputados, mas também sofre com dissidências fora e dentro de seu partido, o PP. Fábio Trad (PSD-MS), por exemplo, reluta a seguir a orientação de seu partido.

—Acho perigos opara a democracia, sobretudo agora, ter o presidente do Poder Legislativo muito sintonizado com o Poder Executivo —disse Trad, que espera a definição do rival de Lira para se decidir.

O grupo de Maia conta ainda com defecções no Pros, cujo líder, Acácio Favacho (AP), não compareceu ao evento do lançamento de candidatura de Lira. Por temer retaliações do Planalto, como a demora na liberação de recursos das emendas parlamentares, deputados que optarem pela “traição” a favor de Maia tendem a executar a estratégia de maneira silenciosa —o voto é secreto.

A maior divisão relacionada a Lira, no entanto, pode vir de seu próprio partido. Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) é apontado como o preferido de Maia e visto como um político com diálogo com boa parte do Congresso, principalmente a esquerda, considerada a fiel da balança. Maia também é grato a Ribeiro por ter recebido seu apoio em 2016, quando se elegeu presidente da Câmara pela primeira vez.

Ribeiro disputa principalmente com Baleia Rossi (MDB-SP) o posto de candidato apoiado pelo grupo de Maia. O emedebista tema desvantagem de ter menos entrada na esquerda, mas, por outro lado, garantiria o apoio dos outros 34 deputados do MDB, o que dificilmente acontecerá caso Maia opte por Ribeiro. Nesse cenário, a avaliação é que boa parte da bancada migrará para Lira. Ontem, Maia brincou que, se fosse por preferência pessoal, escolheria um “filho” e citou que teria predileção por alguém do DEM, como Elmar Nascimento (BA), mas que precisava que o bloco montado permanecesse “em pé”.