Título: "Apostamos na descentralização"
Autor: Rafael Baldo
Fonte: Jornal do Brasil, 11/02/2005, Brasília, p. D5

O administrador de Ceilândia, Rogério Rosso, esteve presente ao Ceilambódromo durante todos os dias do carnaval. Há sete meses no comando da cidade mais populosa no Distrito Federal, Rosso fez questão de desfilar pela avenida e sair em uma ala da escola de samba Aruc. A animação tem justificativa. O carnaval em Ceilândia foi a maior manifestação de rua da região, comparável somente à aglomeração da população quando a seleção brasileira visitou Brasília após a conquista do pentacampeonato na Copa do Mundo. Carioca de 36 anos, no DF desde os seis meses de idade, Rosso afirma que sabe qual é a realidade da população local da cidade que administra mesmo estando na política local por pouco tempo. Rosso começou há dois anos como integrante da área econômica do GDF, culminando como secretário da Agência de Desenvolvimento Econômico. Em 3 de agosto do ano passado, Rogério assumiu a administração de Ceilândia a pedido particular do governador Joaquim Roriz.

Misturando os conhecimentos de empresário do setor automotivo com o populismo característico do governo local, Rosso tomou gosto pela política. Nas eleições do ano que vem, existe a possibilidade de se candidatar a deputado federal. Na entrevista abaixo, o administrador de Ceilândia não desmente a idéia.

Como Ceilândia virou a nova capital do carnaval?

- O Carnaval de Brasília sempre foi realizado no Plano Piloto e nos últimos anos estava sofrendo a falta de público para assistir os desfiles. Isso gerou vários desgastes, como a dificuldade em arrumar patrocinadores e o desânimo de toda a comunidade de participar do evento. O governo tem descentralizado todas as suas atividades, ou seja, tem realizado movimentos de dentro pra fora do Plano Piloto. Foi assim com a economia, criando o Pró-DF e as áreas de desenvolvimento econômico em cada região; e com a infra-estrutura, fortalecendo as cidades e criando melhores condições para cada cidade do DF. Isso começou a ser feito também na cultura. O carnaval é a maior festa popular brasileira e nunca deixou de existir no DF, mas estava perdendo o fôlego. Então, apostamos na descentralização do desfile. Por outro lado, a própria Câmara Legislativa realizou seminários em 2003 e 2004 - promovidos pelos deputados Chico Vigilante, Gim Argello e Eliana Pedrosa - para discutir o carnaval. A Liga das escolas de samba apostavam na idéia e o governo fez a pré-opção por Ceilândia. A idéia inicial seria fazer na avenida Hélio Prates, entre Taguatinga e Ceilândia, mas o Detran e a Secretaria de Segurança Pública não aprovaram o local, por ser uma via pública com alta densidade de carros. A partir daí, em meados de dezembro tomamos a decisão de realizar o desfile na Ceilândia e trabalhamos intensamente durante quarenta dias para construir o Ceilambódromo.

Quais são os resultados conquistados pela Administração de Ceilândia com a festa do carnaval?

- Primeiro, o resgate da verdadeira imagem de Ceilândia. Uma parcela do Distrito Federal via a Ceilândia como uma cidade violenta. E essa realidade já mudou há muito tempo e tem mudado a cada dia. A maior mostra é a cidade ter recebido 300 mil pessoas em quatro dias, sem o registro de nenhuma ocorrência policial grave. A auto-estima da nossa população foi realmente recuperada, porque a cidade está muito orgulhosa de ter recebido este carnaval, de ser sede do mais importante carnaval da história do Distrito Federal. Terceiro, ao longo dos dias, alguns segmentos da cidade multiplicou por cinco as vendas e isso teve um impacto muito forte na economia. Quarto, a abertura das portas para que Ceilândia seja uma cidade de eventos. É uma cidade com tradições nordestinas muito fortes, porque tem uma população muito grande dessa região. A partir deste carnaval, podemos pensar em grandes festivais de festas juninas, por exemplo.

- Como fazer para garantir e manter a segurança sem o contingente de 700 policiais mobilizados para o carnaval?

- Uma das questões mais importantes era o aumento da frota de veículos tanto da Polícia Militar quanto da Polícia Civil. O governador, aqui mesmo no Ceilambódromo entregou a maior frota de veículos que Ceilândia já teve em toda sua história. Foram quarenta novas viaturas, adaptadas para configuração geográfica de Ceilândia, como caminhonetes 4x4, dobrando a frota já existente. Esse era o grande passo para realmente modernizar a segurança pública na cidade. Era o que faltava em Ceilândia e foi uma de nossas prioridades nos últimos meses.

- O senhor vai lutar para que o sambódromo se torne um local permanente?

- Claro, o Ceilambódromo se mostrou como um palco de sucesso, que torcemos para se repetir a partir desse evento. Trazer 300 mil pessoas em quatro dias, com essa tranqüilidade, essa paz e essa organização não é fácil. Foram poucos os lugares no Brasil com um número desse tamanho de populares e a festa sendo realizada com tanta ordem. Isso nos dá ânimo para trabalhar na construção de uma área permanente, não só para carnaval, mas também para outras festas populares. Queremos utilizar a estrutura ao longo do ano para capacitação profissional, esportes e lazer da comunidade.

- Qual é o projeto mais importante da Administração para este ano?

- Nós estamos com três focos importantes. Um deles é a construção do shopping popular, para tirar os ambulantes do centro de Ceilândia, que já estão lá há décadas. A construção desse shopping já começou, entre a Administração e o Fórum. Outro foco é a conclusão das obras do metrô, porque se dá mais oportunidade de emprego e educação para Ceilândia e traz com mais facilidade consumidores de todo o DF. E finalmente, estamos trabalhando na ampliação do Hospital Regional de Ceilândia. As obras se iniciam ainda em fevereiro, para atender a demanda existente em função da região do Entorno. Outros projetos, não também são importantes, porém esses três são fundamentais.

- A sua proximidade com Roriz, cada dia mais evidente, está causando algum tipo de ciúme junto aos aliados mais antigos do governador?

- Eu sou amigo do Roriz antes mesmo de ele ser governador. Nós temos uma relação de amizade, com origem no relacionamento entre minha mulher e as filhas do governador, desde a década de 80. O destino e Deus fizeram com que nesse último mandato do governador eu tenha entrado na sua maravilhosa equipe. Não vejo nenhum ciúme e constrangimento, pelo contrário. É fato estarem os deputados Chico Vigilante, Eliana Pedrosa, Pedro Passos, o bloco independente, o governo e a oposição juntos no Ceilambódromo dançando e pulando junto comigo. Existe uma união cada dia maior em prol de Ceilândia, porque todos os políticos de Brasília têm consciência que a qualidade de vida do DF, a melhor do Brasil, obrigatoriamente passa por Ceilândia, representando um quarto da população. No início até poderia haver alguma desconfiança, mas eu a vejo como natural. Agora é cada vez mais unido.

- Ano que vem tem eleição. O senhor concorrerá ao cargo de deputado federal ou até como candidato a governador?

- Eu trabalho desde os 14 anos de idade em empresas do setor privado. Nunca imaginei entrar no governo do Distrito Federal. Entrei como secretário de Desenvolvimento Econômico e, em meio da minha gestão na Agência de Desenvolvimento Econômico, o governador me convidou para ser Administrador de Ceilândia. Na minha vida, eu tenho a filosofia: quer onde você esteja, você tem que fazer bem feito. Eu trabalho sempre por gestão, por resultado. Essa é a minha filosofia de trabalho. Tudo na vida é uma questão de resultados. Eu não penso em candidatura, acho que é cedo para se pensar. Entretanto, sempre digo que a gente não pode prever o futuro. Sou um integrante da equipe do governador Roriz, considero ele como o maior líder político da nossa região e sempre vou consultá-lo para qualquer assunto político dentro do DF. Vou trabalhar fortemente numa boa gestão em Ceilândia e ano que vêm, com toda equipe unida, veremos a posição que cada um vai tomar.

- O governo legislou, no ano passado, muito mais do que a própria Câmara Legislativa. Qual é a sua opinião sobre o assunto?

- O governador sempre respeitou a independência dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. Jamais trabalhou na intervenção em poderes e respeita absolutamente essa relação. A nova configuração da Câmara Legislativa tem como presidente o deputado Fábio Barcellos, da base governista. Com certeza o DF vai ganhar muito com sua presidência, principalmente por ser pessoa com compromissos muito fortes com esta cidade. Apesar de estar no primeiro mandato, tem maturidade grande, e com certeza vai trabalhar no fortalecimento da imagem do Legislativo.

- Um dos problemas gritantes de Ceilândia é a questão dos entulhos de lixo. Na sua viagem para a Itália, o senhor entrou em contato com empresas do setor. O que é possível e está previsto para Ceilândia na resolução desta questão?

- As grandes soluções são sempre soluções simples. Uma das respostas já está acontecendo em Ceilândia, na questão do reaproveitamento de entulhos sólidos. Nós temos uma máquina trituradora que transforma esse resíduo em calçada, meio-fio, e bloquetes para construção de casas de alvenaria. Por outro lado, o governador delegou à vice-governadora Maria de Lourdes Abadia a coordenação de um amplo projeto de tratamento de resíduos, com previsão de construção de usinas de tratamento de lixo e geração de energia, como outras tecnologias adotadas. Nós já temos em Ceilândia o projeto Limpeza a Galope com a utilização dos próprios carroceiros, uma comunidade tradicional da nossa cidade. Eles estão ajudando na limpeza da cidade e na destinação desses resíduos nas áreas de transbordo locais. Para 2005/2006 existe a implantação de usinas de tratamento de lixo e geração de energia, previsto também para Ceilândia.

- O senhor foi um dos grandes responsáveis pelo projeto do Expresso Pequi. Alguma novidade sobre o andamento do projeto?

- O divisor de águas da economia da região foi a implantação do Pró-DF, um estímulo ao setor privado para investimentos. O divisor de águas do carnaval foi o Ceilambódromo. O divisor de águas da economia da região Centro-Oeste vai ser a implantação do trem de alta velocidade, chamado de Trem de Alto Desempenho (TAD) porque é destinado para cargas e passageiros. O Centro-Oeste é o oásis econômico do Brasil para os próximos anos e para isso devemos ter projetos ousados, principalmente na questão da infra-estrutura. O projeto integra a região Centro-Oeste como um todo, principalmente as economias do DF e de Goiás, que são complementares. É um desafio extremamente difícil e complexo, mas é a semente de uma consolidação do Brasil como potência econômica. Não tenho nenhuma dúvida que demandará anos, pois não há nenhuma linha de alto desempenho no Brasil. Os estudos dos trens de alto desempenho no Brasil estão sendo seriamente estudados pelos governos europeus, principalmente o italiano, o francês e o alemão. O DF necessita de projetos ousados, porém bem estruturados. O TAD é uma das obras mais importantes para as próximas gerações e se encontra numa fase de estudos dos projetos técnicos de engenharia e da modelagem financeira. Até o fim do ano, o secretário-coordenador de projetos especiais, José Geraldo Maciel, nos dará um belíssimo projeto para o governador Roriz e o governador de Goiás, Marconi Perillo, saírem pelo mundo para captar recursos privados. A premissa desse projeto é a parceria público-privada. A obra precisa realmente de recursos privados para a implantação.