O Estado de São Paulo, n.46343, 04/09/2020. Economia, p.B7

 

Produção industrial cresce 8% em julho, na 3ª alta consecutiva

Daniela Amorim

04/09/2020

 

 

Números divulgados pelo IBGE ficaram acima das expectativas e 10 das 26 atividades já operam no patamar pré-crise da covid-19

Passado o choque inicial provocado pela pandemia do novo coronavírus, a indústria brasileira se recupera gradualmente há três meses consecutivos. Ainda que não tenham voltado ao patamar de fevereiro, 10 das 26 atividades do setor já operam em nível superior ao da pré-crise sanitária. Os dados são da Pesquisa Industrial Mensal, divulgados ontem pelo IBGE.

Na passagem de junho para julho, a produção cresceu 8,0%, com avanços em 25 das 26 atividades pesquisadas. Em três meses, o ganho acumulado é de 28,8%. Mas a indústria como um todo ainda opera 6,0% abaixo do patamar prépandemia.

"Há um crescimento importante, mas é sobre algo que havia recuado em magnitude jamais vista na série histórica da pesquisa", ponderou André Macedo,

gerente da Coordenação de Indústria do IBGE.

O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) lembra que a indústria nacional já vinha enfrentando desafios mesmos antes da pandemia. O retorno ao patamar précovid não garante um dinamismo nos meses seguintes, especialmente num ambiente de comércio internacional em retração, retirada de programas de auxílio do governo, taxa de desemprego elevada e incertezas que inibem decisões de consumo e investimentos.

"Fazer frente ao choque de agora não resolve o problema todo, porque a gente já vinha de perdas no período anterior à crise sanitária", alertou Rafael Cagnin, economista-chefe do Iedi.

O desempenho da Pesquisa Industrial Mensal de julho surpreendeu positivamente analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Projeções Broadcast, que esperavam uma elevação mediana de 5,9% na produção. Os dados levaram alguns economistas a estimarem uma retração menos aguda para a indústria ao fim de 2020. A economista Lisandra Barbero, da XP Investimentos, pretende revisar sua projeção de queda para o setor industrial em 2020 de -8,2% para -7,0%.

A consultoria Pezco Economics previa uma queda de 7,9% na produção industrial deste ano, mas agora estima que a redução fique entre -6,2% e -6,5%, embora projete perda de fôlego no setor nos próximos meses.

"Essa dinâmica (de aumento na produção) deve se enfraquecer em agosto e setembro por um modo de estabilização. Tem que ter algum gás novo para puxar o crescimento, como aumento na exportação de bens industrializados, mas esse é um cenário que parece pouco provável", argumentou o economista Helcio Takeda, da Pezco Economics.

Desempenho. Em julho, os desempenhos mais elevados em relação ao patamar de fevereiro foram registrados pelas atividades de bebidas, que chegou a julho com o nível de produção 11,6% superior, equipamentos de informática (8,6%) e indústrias extrativas (5,2%). Na direção oposta, os segmentos de veículos (32,9%) e artigos de vestuário (38,7%) operam nos patamares mais baixos ante fevereiro.

Para André Macedo, do IBGE, há um longo caminho a percorrer não apenas para resgatar as perdas provocadas pela crise sanitária, mas para voltar ao melhor momento da série histórica. Atualmente, a produção ainda opera 21,2% abaixo do ápice alcançado em maio de 2011.

A flexibilização das medidas de isolamento social permitiu o retorno à atividade de linhas de produção que foram paralisadas pela pandemia, mas também contribuíram para a retomada industrial medidas anunciadas pelo governo, como o pagamento de auxílio emergencial a trabalhadores vulneráveis e a liberação de saques de contas do FGTS , apontou Macedo.

"Contribuíram de forma importante para o consumo e para isso rebater no setor industrial", disse Macedo.