O globo, n.31904, 12/12/2020. País, p. 12

 

Eleitas, vereadoras trans e negras recebem ameaças de morte

Gabriela Olivia 

12/12/2020

 

 

As prefeituras espalhadas pelo país terão um aumento da representatividade negra e LGBTQIA + a partir de 2021. Apesar do avanço, as vereadoras eleitas que representam essas bandeiras têm sido alvo de ataques racistas, transfóbicos e anti-vida.

Benny Briolly (PSOL), de Niterói (RJ); Duda Salabert (PDT), em Belo Horizonte (MG); Carol Dartora (PT), em Curitiba (PA); e Ana Lúcia Martins (PT), em Joinville (SC), receberam ameaças do mesmo provedor, com a assinatura de Ricardo Wagner Arouxa. Ele, no entanto, não é o autor dos ataques. Em 2018, uma reportagem da revista Época mostrou que Arouxa era alvo de Dogolachan, o maior grupo de ódio organizado na internet brasileira. Duda Salabert, vereadora eleita com maior número de votos (37.613) da história de Belo Horizonte, é a primeira mulher transexual na legislatura municipal da capital. Além de receber uma ameaça de morte, ela foi chamada de "peruca maçom". O autor disse ainda que cometeria um crime de ódio na escola onde Duda dá aulas, matando "All Blacks".

—A suspeita é de que os perpetradores pertencem a grupos neonazistas - diz Duda.

O ataque transfóbico também foi dirigido a Benny Briolly, que tem em comum com Duda o fato de ter sido a primeira vereadora trans eleita em Niterói. Dentro

Duda Salabert, de BH, recebeu mensagem transfóbica de insultos e ameaças, que tinha até o endereço onde mora a ativista dos direitos humanos, a autora a chama de "macaca favela fedorenta, ninho de cabelo de mafagafos, peruca maçom" e continua: "Se não renuncia, vou comprar uma pistola e te mato ". - Durante a campanha, fui amaldiçoado, levei cuspe e até uma bofetada. Eu tive que fazer um

reclamação devido a fortes ameaças da conta do Facebook Benny.

No Sul, Carol Dartora e Ana Lúcia Martins receberam insultos racistas. Contra o primeiro, o autor da mensagem diz que pretende atirar no rosto dela; Ana Lúcia recebeu ameaças de morte: "agora só falta matá-la e entrar no suplente que é branco".

Hannah Maruci Aflalo, cientista política da Universidade de São Paulo (USP) e cofundadora do projeto a Tenda, que oferecia aconselhamento gratuito aos candidatos, cobra ação do Estado: - as ameaças que vemos contra as mulheres eleitas são mensagens claras de uma sociedade que faz não quero que os corpos das mulheres, negras, trans, ocupem a política. Vimos isso acontecer com Marielle Franco e estamos vendo uma deputada federal, Talíria Petrone, que pediu ajuda internacional, pois a segurança não está sendo garantida em nível nacional.

Todos os casos foram registrados na polícia e as investigações estão em andamento. Em Joinville, a PT lançou uma plataforma para pressionar a Secretaria de Segurança Pública de Santa Catarina a garantir a proteção da vida de Ana Lúcia.