O Estado de São Paulo, n.46344, 05/09/2020. Política, p.A8

 

Procurador deixa Greenfield e cita falta de estrtura

Pepita Ortega

Eliana Cantanhêde

05/09/2020

 

 

Anselmo Lopes, que integra a operação desde o início, anuncia sua saída da força-tarefa e reclama de decisões tomadas pela PGR

Após Deltan Dallagnol anunciar a saída da Lava Jato de Curitiba e a força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF) de São Paulo pedir renúncia em massa, ontem foi a vez de um procurador de Brasília pedir para deixar um grupo que investiga corrupção.

Ao divulgar prestação de contas ontem, a força-tarefa da Operação Greenfield – que investiga fraudes em fundos de pensão e atuou em apurações como a do "bunker" de R$ 51 milhões do ex-ministro Geddel Vieira Lima – confirmou o afastamento do procurador Anselmo Henrique Cordeiro Lopes, e afirmou que enfrenta "cenário de grave deficiência estrutural e dificuldades" na Procuradoria-geral da República.

Como antecipou a Coluna do Estadão, Anselmo Lopes trocou de função com Cláudio Drewes, procurador-chefe do Ministério Público Federal no Distrito Federal. A mudança começa a valer terça-feira.

Lopes era o único procurador exclusivo da Greenfield, que, no início de seus trabalhos, tinha cinco integrantes que se dedicavam somente às investigações do grupo. Juntamente com o relatório das atividades da "terceira etapa" da força-tarefa, a Procuradoria da República no Distrito Federal divulgou uma carta aberta de Lopes sobre sua decisão de se afastar da Greenfield. Ele afirmou que sua saída foi motivada pela "insatisfação com a insuficiência de dotação de uma estrutura adequada de trabalho à força-tarefa".

"Hoje, a Greenfield é um universo imenso de casos e investigações que envolvem cifras bilionárias, sendo de grande relevância e impondo enorme responsabilidade, não sendo possível que um só procurador se dedique com exclusividade a esse complexo investigativo. Por maior que seja o espírito público e a vontade de lutar pela Justiça, permanecer como único membro de dedicação exclusiva à força-tarefa pareceu-me inaceitável", disse Lopes.

"A atuação da força-tarefa Greenfield restou bastante prejudicada pela recente decisão da Procuradoria-geral da República de não mais prorrogar a desoneração dos colegas Sara Moreira e Leandro Musa, deixando-me como único membro exclusivo da força-tarefa Greenfield", escreveu.

No relatório das atividades realizadas pela equipe entre agosto de 2019 e julho de 2020, a Greenfield aponta ainda que o período foi "marcado por reduções na força de trabalho e por dificuldades na prorrogação da força-tarefa pela Procuradoriageral da República". Afirma que a força-tarefa solicitou a prorrogação dos trabalhos por sucessivas vezes, tendo o procurador-geral da República, Augusto Aras, autorizado a continuidade das atividades no último dia de prazo previsto, mas deixando apenas um procurador dedicado às investigações.

"Desde 1.º de julho, a força de trabalho, que já era bastante aquém do necessário (como reiteradamente comunicado à PGR) para alcançar seus objetivos de maneira eficaz e eficiente, em prazo razoável (afastando-se o risco de prescrição), sofreu grave prejuízo, considerando que todos os membros da Greenfield, com exceção apenas do procurador natural, passaram a acumular os trabalhos da força-tarefa com o trabalho ordinário de suas lotações de origem", registrou a força-tarefa.

A mudança na Greenfield se dá em meio a um período delicado para outras forças-tarefa. Na terça-feira passada, Dallagnol anunciou sua saída do comando da Lava Jato em Curitiba por motivos familiares. No dia seguinte, os procuradores da força-tarefa de São Paulo pediram demissão coletiva por "incompatibilidades insolúveis" com a procuradora natural do ofício ao qual o grupo é ligado. 

'Apoio'. Aras alegou que houve alteração da exclusividade dos procuradores Sara Moreira e Leandro Musa por exigência dos procuradores-chefes (das unidades nos Estados) em que eles são lotados. Segundo Aras, nem ele nem a Procuradoria-geral tem ingerência nesse tipo de situação. "Estou baixando uma portaria para evitar que tais fatos prejudiquem os serviços, a fim de que pedidos de dispensa não sejam recebidos abruptamente. Temos, na primeira instância, mais de 600 procuradores em condições de atuar, a depender de cada um e de cada unidade de lotação. Continuarei a fornecer todo o apoio material e de pessoal para combater a corrupção", disse.

A Greenfield é responsável por 48 ações penais e 27 de improbidade. Faz ainda a gestão de acordos de leniência, de colaboração e de reparação envolvendo o pagamento de mais de R$ 11,8 bilhões.