Valor econômico, v. 21, n. 5170, 19/01/2021. Brasil, p. A4

 

País terá poucas doses no Covax

Assis Moreira

19/01/2021

 

 

O Covax, iniciativa mundial que visa assegurar o acesso rápido e equitativo de 190 países às vacinas anticovid-19, poderá distribuir 135 milhões de doses já em fevereiro, resultando em volumes bem pequenos para cada um, conforme o Valor apurou.

O plano é aumentar progressivamente a distribuição para 450 milhões de doses no segundo trimestre, 650 milhões no terceiro e 925 milhões no último.
O Brasil fez a opção de comprar 43 milhões de doses por essa iniciativa global, para imunizar 10% da população. Boa parte dos países assumiu compromisso firme de compra para imunizar 20% de sua população com as vacinas que obtiver pelo Covax.

Quem fez opção de compra, como o Brasil, vai ser consultado com antecedência se quer ou não executar a opção. Em tese, a distribuição será simultânea para todos os países em condições de receber as doses.

O Covax é um “pool” para ter acesso à vacina. Depois, a operação será comercial, na medida em que as doses forem sendo entregues. Isso significa que o Brasil e os outros países precisarão acertar diretamente com o laboratório produtor a responsabilide jurídica no caso de problema com a vacina.

O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, já se queixou, em negociações bilaterais em Brasília, que farmacêuticas não querem ser julgadas em tribunais brasileiros caso haja algum problema.

Em comparação, fontes notam que os contratos bilaterais de compra de vacinas pela União Europeia (UE) preveem uma repartição de responsabilidades jurídicas entre os Estados e os laboratórios.

O Brasil terá também de demonstrar ao Gavi (Aliança Global para Vacinas e Imunização) que está preparado para receber as vacinas contratadas via Covax. Se tem, por exemplo, condições de armazená-las, para não estragar um medicamento buscado hoje por todo mundo.

Se tudo der certo do ponto de vista regulatório, ou seja, se a OMS der o sinal verde, as vacinas da AstraZeneca manufaturadas pelo Serum Institute, da Índia, e pelo SK Bioscience, da Coreia do Sul, poderão começar a ser distribuídas na segunda quinzena de fevereiro pelo Covax.
No entanto, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou ontem que o Covax assegurou 2 bilhões de doses junto a cinco produtores, com opção de mais 1 bilhão de vacina, mas que há questionamentos sobre o tema. E que alguns países e farmacêuticas continuam a priorizar acordos bilaterais, contornando o Covax.