Título: Bovespa pára em pregão de pânico
Autor: Filgueiras, Maria Luiza
Fonte: Jornal do Brasil, 30/09/2008, Tema do Dia, p. A5

SÃO PAULO

A segunda-feira foi tenebrosa na Bolsa de Valores de São Paulo, que teve negócios suspensos no início da tarde, rompeu a barreira dos 45 mil pontos e fechou com o pior desempenho desde janeiro de 1999.

No fim do dia, o principal índice da Bovespa registrou baixa de 9,36%, aos 46.028 pontos, com giro financeiro de R$ 5,77 bilhões. Nenhuma ação do Ibovespa, carteira composta pelos 66 papéis mais negociados, fechou em alta.

O pregão brasileiro acompanhou os índices das bolsas americanas, assim como fizeram as bolsas de valores no mundo todo. O Índice Dow Jones teve a maior perda em pontos da história e a Nasdaq teve seu pior dia desde o estouro da bolha de internet, em abril de 2000. O colapso foi desencadeado pelo anúncio de que os parlamentares americanos não aprovaram o pacote de medidas para salvar as instituições financeiras, que previa a injeção de US$ 700 bilhões em títulos podres.

Efeitos

Assim que o mercado mundial tomou conhecimento da decisão da Câmara dos EUA, o Ibovespa caiu 10,16%, às 14h49, quando os reguladores da bolsa brasileira suspenderam as negociações por 30 minutos, usando o mecanismo de segurança chamado circuit breaker.

Mas nem a suspensão dos negócios à vista acalmou os investidores, em pânico com a dimensão que a crise desencadeada pelos créditos imobiliários de alto risco nos EUA ainda pode tomar.

¿ Trabalhávamos com um suporte de 43.800 pontos, que a bolsa bateu e deu uma leve recuperada no fechamento. O efeito psicológico pode dar um tom menos crítico à bolsa hoje, já que as perdas foram muito acentuadas ¿ diz Clodoir Viera, analista da corretora Souza Barros. ¿ Na derrocada, não deu para distinguir setores, gestão ou histórico. Todo mundo apanhou.

Os investidores já abriram o pregão brasileiro ontem em ressaca com as notícias do fim de semana trazidas por ventos europeus ¿ o banco britânico Bradford & Bingley foi nacionalizado e os bancos centrais da Alemanha e da Bélgica tiveram que abrir os cofres para evitar o colapso do Hypo e Fortis. No cenário interno, a divulgação de prejuízos milionários em companhias brasileiras, na sexta-feira, com operações de derivativos que vão afetar os resultados do terceiro trimestre, também serviu para amargar a abertura do mercado.

¿ O cenário com a aprovação do pacote já era excepcionalmente perigoso. Estamos em um novo capítulo, em que o governo americano, através dos parlamentares, parece estar decidido a evitar um risco moral e dar uma lição vendo os bancos quebrarem ¿ avalia Arthur Carvalho, economista-da Ativa Corretora.

Para Trentin, ficou explícito que a crise vai afetar a economia real no Brasil.

¿ A princípio as exportadoras acabam sofrendo mais, porque dependem do vigor econômico no mercado externo, e os bancos médios também pode sofrer com a falta de liquidez e funding. As companhias tendem a desacelerar e postergar projetos ¿ diz a analista.

O diretor de estratégia da Infinity Asset, André Paes, ressalta que em momentos de crise perdem-se os parâmetros fundamentalistas e grafistas.

¿ Mas as companhias que estão mais focadas no mercado interno e que não dependem tanto de crédito devem sofrer menos ¿ pondera.

Por isso, para o analista Denilson Duarte, da Maxima Asset, a pressão se volta para setores como constru- ção e varejo ¿ que figuraram ontem entre as maiores perdas e também cedem as ações de commodities, com perspectivas de desaceleração da economia mundial ¿ diz Duarte.

Ontem, a gestora zerou posições em papéis que chegaram ao limite de perdas, assim como fizeram outras assets. Para a pessoa física, desfazer-se dos papéis agora pode ser má idéia, pelo grande prejuízo.

¿ Estamos vivendo um momento histórico e ainda não se sabe qual é o fundo do poço. É preciso manter o foco no longo prazo ¿ diz Fausto Gouveia, analista da Alpes.