Valor econômico, v. 21, n. 5171, 20/01/2021. Brasil, p. A4

 

Vacinação lenta e pandemia levam a cortes nas projeções do PIB

Arícia Martins

Ana Conceição

20/01/2021

 

 

Com piora da pandemia e vacinação lenta, BNP Paribas e A.C Pastore reduzem estimativas para crescimento deste ano
O recrudescimento da pandemia e o cronograma lento da vacinação já estão levando instituições a ficarem mais pessimistas com o crescimento em 2021. Ontem, o BNP Paribas cortou a projeção para a alta do Produto Interno Bruto (PIB) no ano, de 3% para 2,5%. Na segunda, a consultoria A.C Pastore reduziu sua estimativa a 3%, número que era 4,5% em dezembro.

No cenário do banco francês, aponta a equipe econômica chefiada por Gustavo Arruda em relatório, o pico da nova onda de infecções será atingido em meados de março, o que resultará em um contingente elevado de casos até maio ou junho.
“Enquanto o aumento atual ainda não afetou a economia, uma vez que poucas cidades anunciaram ‘lockdowns’, a continuidade dessa tendência deve forçar que outras medidas restritivas sejam tomadas”, afirma o BNP, que passou a esperar recessão técnica - quando o PIB cai por dois trimestres seguidos - no primeiro semestre.

Com base em dados disponíveis e algumas hipóteses, o banco estima que o grupo prioritário estará totalmente vacinado até o fim de março ou abril. Se esse ritmo prosseguir, afirma a instituição, 50% da população adulta estará imunizada até agosto, e o restante, até o primeiro trimestre de 2022.

O problema, observa o BNP, é que essa velocidade é lenta para conter o avanço da pandemia. “E essa curva de imunização assume disponibilidade total das vacinas, o que pode ser uma hipótese otimista”, destacam os analistas.

Até o momento, afirmam eles, os indicadores de mobilidade ainda não sinalizam retração do nível de atividade, mas isso deve mudar nos próximos meses, já que, conforme hospitais atinjam sua capacidade máxima, prefeitos e governadores tendem a impor novas medidas de distanciamento social.

Citando também a piora da pandemia e o atraso da imunização, que já afetaram o crescimento no fim de 2020, a consultoria A.C Pastore passou a estimar um carregamento estatístico menor deixado pelo ano passado para este ano, de 3,4%.
“Diante de um quadro de piora da atividade econômica, particularmente no primeiro trimestre de 2021, as estimativas de crescimento do PIB em 2021 devem se situar mais próximas de 3%”, escrevem os economistas da consultoria comandada pelo ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore.

Para os economistas da A.C. Pastore, do ponto de vista dos estímulos à atividade, a política monetária chegou ao limite e, por isso, a retomada do crescimento econômico depende da vacinação em massa contra a covid-19, campo em que o governo federal tem falhado.

“Há indicações de que o crescimento do quarto trimestre de 2020 já tenha sido negativamente afetado, e que os efeitos [do recrudescimento da pandemia] sobre a economia serão ainda maiores no primeiro trimestre de 2021”, escrevem.

Em seu relatório, a consultoria critica a politização da vacinação contra a covid-19, com a disputa entre os governos federal e do Estado de São Paulo, e chama de criminosa a ação da administração Jair Bolsonaro.