Valor econômico, v. 21, n. 5171, 20/01/2021. Política, p. A8

 

Lira tira PSL de Baleia e forma maior bloco

Raphael Di Cunto

Marcelo Ribeiro

20/01/2021

 

 

Líder do PP conta com traições partidárias
Após perder o apoio formal do Solidariedade para a candidatura de Baleia Rossi (MDB-SP) à presidência da Câmara dos Deputados, o deputado Arthur Lira (PP-AL), conquistou ontem mais quatro votos dentro do PSL, com os quais terá maioria para que a sigla componha seu bloco partidário. O PSL tinha prometido se aliar a Baleia e a mudança forçada deve alterar a correlação de forças na disputa pelos cargos de direção da Câmara.

O grupo de Baleia tinha uma aliança com partidos que representam 289 deputados. Com a saída do PSL, o bloco cai a 236. Lira, por sua vez, alcançaria o apoio formal de 259 parlamentares, mais da metade da Câmara. Essas contas servem para o cálculo de quais blocos ficarão com so principais cargos (distribuídos de acordo com o tamanho de cada um), o que ajuda nas negociações de votos de cada candidato.
Para vencer a eleição da Câmara é necessário o voto de 257 deputados. Mas o voto é secreto e nem sempre os parlamentares seguem a orientação de seus partidos. O presidente Jair Bolsonaro e o governo tem trabalhado a favor da candidatura de Lira e oferecido cargos e emendas orçamentárias em troca de voto. Já Baleia tem o apoio do atual presidente, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e faz o discurso de independência, numa aliança com a oposição.
Foi esse acordo de Baleia com a oposição o argumento dos deputados do PSL. Charles Evangelista (MG) e Luiz Lima (RJ) disseram que assinaram a nova lista para não se associarem aos partidos de esquerda. Com os quatro novos apoios, a adesão ao bloco do PP passou a contar com 36 dos 53 deputados do PSL, o que garantiria a maioria mesmo sem os 17 suspensos pelo partido - havia uma disputa sobre considerar ou não esses apoios. “Somos maioria no PSL de 53 e maioria de 35 [por causa dos suspensos] como queria o presidente Rodrigo Maia. Nosso bloco está definitivamente com PSL”, disse Lira.

O grupo de Baleia ainda espera contar com parte dos votos do PSL e tenta reverter a mudança de postura do partido, pressionando os parlamentares que são dirigentes partidários com a perda de diretórios e de recursos para a eleição de 2022. O acordo com o candidato do MDB foi costurado pelo presidente da sigla, o deputado Luciano Bivar (PE), que é rompido com Bolsonaro.

Aliados de Lira, por sua vez, trabalham para retomar o apoio do Solidariedade. O partido decidiu se aliar a Baleia numa decisão anteontem de sua cúpula, formada principalmente por dirigentes sindicais que são contrários ao governo Bolsonaro. Mas a maioria dos 14 deputados tende hoje a votar no deputado do PP. Teve início movimentação nos bastidores para fazer uma lista com a assinatura desses deputados para adesão ao bloco de Lira.
Os aliados de Baleia, por sua vez, esperam que o trabalho dos presidentes de partido que o apoiam ajude a reverter as traições. Dizem ainda que o voto secreto permitirá que os deputados manifestem suas reais intenções, sem medo da retaliação do governo, que estaria ameaçando com a demissão de indicados políticos e congelamento de emendas de quem não apoiar Lira. Já apoiadores do líder do PP contam com “traições” aos partidos para consolidar uma vitória no primeiro turno.
Na viagem de Lira ao Paraná ontem, o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), deixou a posição de neutralidade e declarou apoio ao colega de partido. Barros colocou uma foto em suas redes sociais da visita e escreveu que tratava-se da “caravana da vitória”. Até então, ele defendia que se manteria neutro porque o principal adversário também votava com o governo na Câmara. O apoio, disse Barros, ocorreu individualmente como parlamentar e não como representante do Executivo. Baleia viajou ao Mato Grosso do Sul.