Título: Editoras correm contra o tempo para se adequar
Autor: Vaz, Paulo Márcio
Fonte: Jornal do Brasil, 30/09/2008, País, p. A16

Discutido desde 1931, o Acordo Ortográfico dos Países de Língua Portuguesa, assinado hoje, está tirando o sono das editoras brasileiras. A unificação deve causar impacto no mercado editorial, obrigando investimentos pesados na revisão e alteração de obras, além de redimensionar o mercado externo.

¿ A longo prazo, as mudanças trarão benefícios, ampliando e expandido o mercado de livros, facilitando a circulação entre os países e diminuindo barreiras políticas, diplomáticas e comerciais ¿ avalia o professor José Carlos de Azeredo, que coordenou o livro Escrevendo pela Nova Ortografia (Publifolha). ¿ Mas é certo que reformas desse porte não podem ser realizadas sem ônus. Nesse período de transição, as editoras terão que fazer altos investimentos alterando os livros.

Diretor da editora Companhia das Letras, Sergio Windholz considera a reforma positiva, mas ressalta os altos custos e lamenta o pouco tempo para se adequar. Ele lembra que, embora a mudança seja pequena, afetando não mais do que 0,5% das palavras do vocabulário comum do brasileiro, o trabalho de revisão será significativo.

¿ Independentemente da porcentagem modificada, precisamos revisar todo conteúdo de uma obra ¿ acrescenta. ¿ Até agora, fizemos teste com dois livros. Nos dois casos, foi preciso alterar todas as páginas das obras. Calculamos que será preciso gastar R$ 3 mil por título, o que significa, para nossa editora, R$ 1,5 milhão por ano.

Carga tripla para dicionários

As dificuldades não estão apenas na revisão das obras, como também na formação dos revisores.

¿ Aquele revisor que estava acostumado a procurar tremas nos textos, terá que se acostumar a tirá-las ¿ ressalta Breno Lerner, diretor-geral da Melhoramentos, que lançou diversas obras já com a nova ortografia, acompanhadas de um guia prático trazendo as alterações. ¿ Para os dicionários é uma carga tripla, já que será preciso alterar as referências.

Lerner não acredita que a unificação ajudará as editoras brasileiras a vender livros aos demais países de língua portuguesa.

¿ A unificação não facilita o trânsito de livros entre os países de língua portuguesa, simplesmente porque são vocabulários diferentes ¿ lembra ¿ Como podemos vender livros infantis em Portugal se lá não se usa gerúndio?