Título: Compras fazem bolsa subir 7,6% e dólar cair para R$ 1,906
Autor: Freitas Jr., Osmar
Fonte: Jornal do Brasil, 01/10/2008, Tema do Dia, p. A2

Crente que a rejeição ao plano dos Estados Unidos contra a crise financeira não é definitiva, o investidor voltou a comprar com apetite ações na Bolsa de Valores de São Paulo, que teve ontem a segunda maior alta deste ano.

O Ibovespa, principal índice do mercado doméstico, chegou a 7,63%, aos 49.541 pontos, depois do tombo de 9,36% na véspera, a maior queda em quase uma década. Em linha com o movimento financeiro mais tímido em Wall Street, devido ao feriado do Ano Novo Judaico, o volume de negócios na bolsa paulista também ficou abaixo da média recente, em R$ 4,87 bilhões.

O dia seguinte ao fracasso de Washington em fazer passar na Câmara dos Deputados o pacote de US$ 700 bilhões foi recheado de declarações ponderadas de autoridades dos Estados Unidos, todas indicando que o plano tende a ser avalizado ainda nesta semana.

­ Os mercados estão precificando isso. O pacote simplesmente não pode não ser aprovado ­ disse o economista-chefe do Bradesco, Otávio de Barros, durante apresentação a profissionais do mercado. Em Wall Street, essa sensação impulsionou o índice Dow Jones em 4,68%, um dia depois de o indicador ter registrado a pior performance em 21 anos.

Na bolsa paulista, ações que haviam sido severamente castigadas nas últimas sessões tiveram recuperação importante, a tiracolo da própria BM&F Bovespa, a melhor do índice, com um salto de 17,1%, a R$ 8,50. O setor financeiro foi o carro-chefe da reação: Banco do Brasil puxou a fila entre os bancos, com alta de 11,1% em suas ações, que fecharam cotadas a R$ 22,75.

Blue chips

Um pouco mais atrás, apare- ceram as blue chips, as ações mais valorizadas do mercado: Vale avançou 7,95%, a R$ 32,71. E, patrocinada pela alta do barril do petróleo acima dos US$ 102, Petrobras subiu 7,2%, para R$ 35,10 A disparada, no entanto, foi suficiente apenas para diminuir a perda acumulada em setembro para 11%. Foi o quarto mês consecutivo no vermelho. Desde o fim de maio, o Ibovespa caiu 31,8%.

Em São Paulo, autoridades governamentais e representantes de agências de classificação de risco reforçaram a leitura de que os fundamentos macroeconômicos sólidos estão protegendo o país de efeitos mais danosos da crise. ­

O Brasil faz parte do círculo de comércio e financeiro global e não está completamente imune à crise. Mas os fundamentos do Brasil estão muito melhores, e alguns analistas, no calor dos acontecimentos, perderam isso de vista ­ disse o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Ontem, a cotação do dólar caiu 2,95% fechando a R$ 1,906, depois de ter disparado 6% na segunda-feira. Mesmo com a queda de ontem, a moeda americana subiu 16,79% em setembro, maior valorização desde setembro de 2002, na véspera da eleição do presidente Lula.

Com isto, o dólar, que até agosto registrava queda de 8%, agora acumula alta de 7,3% em 2008.