Título: Só ligo de novo a TV se houver segundo turno
Autor: Migliaccio, Marcelo
Fonte: Jornal do Brasil, 03/10/2008, Tema do Dia, p. A2

Antes de desligar minha te- levisão até o início do próximo horário eleitoral ­ o do segundo turno, se houver ­ algumas impressões sobre a propaganda, que muitos teimaram em não assistir, mas que ainda é um dos melhores instrumentos para escolher um candidato a prefeito (a vereador não, porque a fragmentação só expõe os candidatos ao ridículo). A equipe de Paes fez o melhor programa em termos televisivos.

Mas, além da produção esmerada e do maior tempo em relação aos adversários, o grande diferencial do peemedebista foi sua objetividade. Ele não só prometeu resolver os principais problemas de forma convincente como traduziu em números as intervenções que pretende fazer. Se fará ou não, só saberemos ao final de quatro anos. Isso se ele for eleito. Gabeira manteve o tom modernoso de outras campanhas. Para quem tem rejeição alta, foi um tiro no escuro. Clipes, edição a la MTV, estética meio Cidade de Deus, meio Tropa de elite... Neste domingo, veremos se o público entendeu o recado. Crivella foi a decepção.

Teve pouco tempo e aproveitou mal. Nada pior para um candidato engessado, durão como ele, do que um programa careta. Para os fiéis eleitores da Igreja Universal pode até funcionar, mas para o resto... Jandira optou pelo feijão com arroz. Foi a propaganda com mais cara de anos 80. Ela tentou se descolar da imagem de radical, falando mais baixo e pausadamente, mas explorou o tema da saúde demais. Saturou o telespectador e só trocou o disco no final. Assim como Molon, ela pecou pela falta de imaginação e de coragem para ousar. Quando atacou Paes, o fez com timidez, quase envergonhada. Paulo Ramos fez o mais carioca dos programas. Futebol, laranja podre, Ciep, Brizola.

Parecia uma sessão retrô dentro do horário eleitoral. Foi Realengo puro. Solange é outra que fez um programa antigo. Se ela precisava ressaltar os feitos de Cesar Maia sem ficar tachada de continuísta, não seria com os recursos de edição ultrapassados e os roteiros mais do que previsíveis que usou. Com seus 57 segundos, Chico Alencar não poderia fazer muita coisa.

Só a ousadia o salvaria, mas ele se prendeu a velhas fórmulas, colocou Heloísa Helena demais e não soube brigar por um espaço entre o eleitorado descontente ou excluído do universo clean de Paes. Vinícius Cordeiro não levantou da cadeira nem saiu da frente da estante de livros. Filipe Pereira tropeçou nas palavras e não soube usar o fato de só ter 24 anos. E os comunistas do PCO e do PCB seguirão na clandestinidade até que a luta armada comece.