Valor econômico, v. 21, n. 5172, 21/01/2021. Brasil, p. A6

 

Tereza Cristina e Bento tentam diálogo com Pequim

Cristiano Zaia

21/01/2021

 

 

Ministros tentam destravar envio de insumo necessário à fabricação de vacinas
Diante das dificuldades de interlocução com Pequim após um histórico de atritos causados pelo governo Bolsonaro, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, vem mantendo conversas com o embaixador chinês em Brasília, Yang Wanming, na tentativa de ajudar a destravar a importação de insumos da China necessários para a fabricação de vacinas anticovid.
O Valor apurou que, a pedido de Eduardo Pazuello (Saúde), outros ministros, como Bento Albuquerque (Minas e Energia), entraram em campo para articular com o governo chinês uma saída para a crise. E a expectativa é que a embaixada chinesa no Brasil venha a comunicar nos próximos dias que vem negociando com Brasília para acelerar a vinda da matéria-prima.
Fontes avaliam que o chanceler Ernesto Araújo vem sendo desprestigiado nos contatos com o governo chinês, por causa de episódios que provocaram mal-estar com a China. Uma alta fonte do governo revelou: “A relação do governo brasileiro com a China já foi ótima no início da administração Bolsonaro, mas hoje é no máximo ok”.

Tereza, que goza de boa relação com Yang, manteve contato com o embaixador chinês mais de uma vez nesta semana. E vem se colocando à disposição de Pazuello, do ministro Braga Neto (Casa Civil) e da cúpula do governo para pacificar as relações com Pequim.

O GACC, órgão do governo chinês responsável por habilitar empresas exportadoras de alimentos do Brasil e outros países, também é quem cuida da aprovação de vacinas na China. Pelo volume de comércio entre os dois países, o Ministério da Agricultura tem contato frequente com o órgão. Tereza montou em 2019 uma estrutura no ministério para cuidar só de comércio de produtos agropecuários com a China, que vem sendo útil.

Nos bastidores, o governo avalia também que a China vem atendendo demandas internas em seu país pelo insumo necessário para as vacinas e que é questão de tempo para liberá-lo ao Brasil.

______________________________________________________________________________________________________________________

Entrave é técnico, não político, diz embaixador

Raphael Di Cunto

Marcelo Ribeiro

21/01/2021

 


Atraso na liberação de matéria-prima pode ser atribuído à alta demanda, diz representante diplomático de Pequim
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), se reuniu ontem com o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, para pedir apoio para liberar os insumos para que Instituto Butantan e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) possam fabricar as vacinas contra a covid-19. Segundo ele, o embaixador disse que os entraves são técnicos e não políticos e prometeu mantê-lo atualizado sobre a posição do governo chinês e da “possibilidade de antecipar a exportação dos insumos”.
“A impressão que me dá é que governo chinês sabe da importância dos insumos e vai acelerar o processo interno de tramitação para encaminhar logo a exportação”, disse. “Não entrei em detalhes da questão técnica. Pedi para colocar a posição do Parlamento [brasileiro] sobre a importância do insumos.”

A embaixada chinesa no Brasil divulgou, pelo Twitter, que atribui “grande importância à parceria China/Brasil e vai continuar a promover nossa cooperação e combate conjunto à pandemia”.

Maia reforçou que embaixador deixou claro que atraso não foi motivado por obstáculos políticos com relação ao governo, que tem tomado medidas contra a China num alinhamento ao ex-presidente dos EUA, Donald Trump.
O presidente da Câmara criticou a posição do governo Bolsonaro sobre a China e disse que a maioria dos brasileiros têm boa relação e admiração pelos chineses. “As questões políticas não devem ser a prioridade da nossa relação. Todos sabemos das críticas exageradas e equivocadas do governo brasileiro em relação a China”, disse.

Segundo a deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC), coordenadora do grupo de trabalho da Câmara sobre o 5G, o embaixador disse que o atraso poderia ser devido à demanda alta e pediu que isso não perturbasse a parceria Brasil-China. Ele valorizou a relação entre os países nas áreas de telefonia, agricultura e infraestrutura.