Valor econômico, v. 21, n. 5172, 21/01/2021. Brasil, p. A6

 

App do governo recomenda remédio não eficaz para covid

Murillo Camarotto

21/01/2021

 

 

Ferramenta sugere medicamentos que ministro da Saúde afirmou nesta semana não indicar, mas que defendeu em outros momentos
Uma ferramenta lançada semana passada pelo governo federal para auxiliar médicos no atendimento a pacientes com suspeita de covid-19 faz recomendações de uso de medicamentos sem eficácia comprovada, como cloroquina e hidroxicloroquina.

Testes realizados pelo Valor com a TrateCov Brasil levam à sugestão desses medicamentos mesmo para os sintomas leves, como fraqueza e fadiga. A ferramenta funciona baseada em uma tabela de pontos, a partir dos quais é indicado o tratamento precoce.
Nesta semana, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, negou que estivesse recomendando qualquer medicamento e chegou a se irritar com jornalistas que o questionaram sobre esse assunto.

Poucos dias antes, porém, ele vinha enfatizando a importância do tratamento precoce. Em uma live com o presidente Jair Bolsonaro, disse que o tratamento era fundamental e que “não há outra saída”.

Em visita a Manaus, Pazuello chegou a dizer que iria visitar as unidades de saúde do Amazonas para averiguar se o tratamento precoce estava sendo devidamente oferecido à população local.

Em um teste na ferramenta, a confirmação de ocorrências como fraqueza e fadiga resultam um escore de gravidade nível 6, que sugere tratamento precoce, independentemente de outros sintomas ou comorbidades. Ao assinalar essa opção, o médico recebe a sugestão de prescrever 12 comprimidos diários de hidroxicloroquina.

Para esses mesmos sintomas, o tratamento sugerido também prevê opções como ivermectina, azitromicina e doxiciciclina. Aparentemente, a combinação de mais de um sintoma chega a escore 6, o que resulta nas mesmas recomendações de prescrição aos médicos.

O Ministério da Saúde informou que a TrateCov está em fase de testes no Amazonas e que “orienta opções terapêuticas disponíveis na literatura científica atualizada e oferece total autonomia para que o profissional médico decida o melhor tratamento para o paciente, de acordo com cada caso”.