Valor econômico, v. 21, n. 5172, 21/01/2021. Política, p. A12

 

Presidente faz novo aceno a militares

Fabio Murakawa

21/01/2021

 

 

Sob duras críticas pelas falhas do governo no combate à pandemia e no plano de vacinação, presidente disse estar sendo atacado
O presidente Jair Bolsonaro disse ontem que as Forças Armadas são “a grande base” para sua “missão” à frente do país. Bolsonaro afirmou que, embora zele pela paz e a união, os setores que “teimam em remar” contra o seu governo serão derrotados.

Bolsonaro fez as afirmações durante a solenidade do 80º aniversário do Comando da Aeronática, na base aérea de Brasília.
A fala ocorre dois dias após o presidente ter afirmado que “quem decide se o povo vai viver em uma democracia ou ditadura são suas Forças Armadas”, o que soou para muitos como uma ameaça de golpe.

Sob duras críticas pelas falhas do governo no combate à pandemia e no plano de vacinação, Bolsonaro disse estar sendo “atacado”. Em uma referência velada à imprensa, o presidente afirmou que “dependendo de onde vem esses fogos, tenho certeza de que estamos no caminho certo”.

“Eu prego e zelo pela união de todos, pelo entendimento, pela paz e pela harmonia. Mas os poucos setores que teimam em remar no sentido contrário, tenho certeza, vocês perderão”, disse o presidente. “Hoje, nós temos um governo que pensa no seu Brasil como um todo. E a grande base nossa para cumprir essa missão são a nossa Marinha, o nosso Exército e a nossa Aeronáutica. Porque vocês, jovens militares que estão à nossa direita, são o caldo do que é o povo brasileiro.”

Bolsonaro citou o socorro prestado pela Força Aérea Brasileira com aeronaves para levar oxigênio para o Amazonas, onde pacientes com covid-19 vêm morrendo asfixiados.

O presidente também fez referência a uma controversa fala do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que chegou a dizer que a vacina chegaria “no Dia D e na Hora H”. “A nossa Força Aérea nessa primeira parte da entrega de vacinas no Brasil cumpriu sua missão no Dia D menos 1”, afirmou.
Essa fala do presidente foi uma alusão ao fato de a vacinação ter sido antecipada em um dia em relação à previsão inicial do governo. Apesar disso, a única vacina aplicada hoje no Brasil é a CoronaVac, desenvolvida em uma parceria entre o Instituto Butantan e a farmacêutica chinesa Sinovac. Esse imunizante é uma aposta do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), um dos maiores rivais políticos do presidente.

No discurso, Bolsonaro afirmou ainda que “o Brasil vem experimentando mudanças ao longo dos últimos dois anos”, por ter “um presidente da República que juntamente com seu Estado- Maior e ministros acreditam em Deus”.

Segundo Bolsonaro, ele e seu governo “respeitam os seus militares, fato raro nas últimas três décadas em nosso país”.

“Nós, militares das Forças Armadas, seguimos o norte indicado à nossa população”, afirmou. “Eu me orgulho das nossas Forças Armadas e assim diz o nosso povo sempre que é chamado a falar sobre elas.”

Desde o primeiro ano de mandato, Bolsonaro vem dando declarações que são interpretadas como um flerte aos militares para ameaçar a democracia no país.

Em 2019, ele disse que sua missão será cumprida ao lado “daqueles que amam a democracia”. “E isso, democracia e liberdade, só existe quando a sua respectiva Força Armada assim o quer”, afirmou na ocasião.