Valor econômico, v. 21, n. 5172, 21/01/2021. Política, p. A14

 

Biden assume nos EUA e amplia reação do governo à pandemia

Susan Heavey

Patricia Zengerle

21/01/2021

 

 

Ao contrário do governo Trump, combate à covid-19 será coordenado da Casa Branca. Controlar epidemia é considerado fundamental para estimular a economia
O novo presidente dos EUA, Joe Biden, tenta reavivar a reação do governo federal à pandemia de covid-19 com uma série de decretos, assinados ontem mesmo, após a sua posse. Ele assume um país abalado pela sua pior crise de saúde pública em mais de um século, que prejudica a economia.

A posse de Biden ocorreu um dia depois de os EUA terem alcançado a marca de 400 mil mortes por covid-19 desde o início da pandemia, no começo do ano passado, enquanto os programas de vacinação ainda estão muito atrás da meta de imunizar 20 milhões de americanos até o fim de 2020.
“Estamos ingressando no que pode ser o período mais difícil e mais letal do vírus, e temos de deixar de lado a política e encarar, finalmente, esta pandemia como uma nação”, afirmou o democrata Biden, de 78 anos, em seu discurso de posse.

Os EUA contabilizam quase 200 mil novos casos de covid-19 e 3.000 mortes ao dia, na média móvel de sete dias, de acordo com dados da Reuters. Mais de 123 mil americanos estavam internados com covid-19, até ontem.

Embora o governo dos EUA tenha enviado aos Estados aproximadamente 36 milhões de doses das duas vacinas aprovadas até agora, apenas 16,5 milhões delas foram aplicadas, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA. A maioria dessas vacinas se destinou a trabalhadores da área de saúde e a moradores idosos de casas de repouso, enquanto americanos considerados “trabalhadores não essenciais” pelo governo ouviram que provavelmente terão de esperar meses pela sua vez.

Ontem, Biden assinou um decreto que exige que todos os funcionários do governo federal usem mascaras e que torna esse equipamento de proteção obrigatórios em instalações federais. O presidente também criou um novo departamento na Casa Branca para coordenar a reação federal à covid-19, que será chefiado por um executivo, Jeff Zients, conhecido como “Mr. Fix It” (algo como “sr. conserta tudo”). Ele controlará todas as ações do governo na campanha de combate à covd-19, da logística de distribuição das vacinas até a decisão sobre restrições de chegada de passageiros do exterior.
Biden suspender também a retirada dos EUA da Organização Mundial de Saúde (OMS), um processo que havia sido iniciado pelo ex-presidente Donald Trump.

Biden planeja, além disso, aderir à aliança Covax, uma iniciativa encabeçada pela OMS e por dois outros grupos destinada a garantir acesso equitativo de países pobres a vacinas contra a covid-19.

As primeiras medidas de Biden visam marcar uma mudança acentuada em relação à reação do governo Trump à pandemia, que, segundo críticos, foi ineficaz e descoordenada.

Depois de fazer o juramento para assumir o cargo, em meio a seu discurso de posse, ele pediu uma oração em silêncio pelos americanos que morreram na pandemia.

Biden também se preparava para nomear um ministro da Saúde interino ainda ontem, disse uma pessoa a par da decisão à MSNBC, após a renúncia do ministro de Trump, Jerome Adams.

Os decretos de Biden, especialmente a obrigatoriedade do uso de máscara, pretendem constituir um exemplo para autoridades estaduais e municipais para deter o avanço do vírus, que sobrecarregou os hospitais. Ordens de lockdown e de fechamentos de empresas impostas por líderes políticos deixaram milhões de americanos desempregados e engessaram a economia americana.

O decreto federal que obriga ao uso de máscara foi elogiado ontem pelo maior lobby empresarial do país. A presidente da Câmara de Comércio dos EUA, Suzanne Clark, o qualificou de “procedimento inteligente e factível”.

Cientistas e especialistas em saúde pública disseram que máscaras podem ajudar a evitar a propagação do vírus, altamente contagioso, mas esse equipamento de proteção se tornou um ponto crítico na vida americana, ao refletir a divisão política do país como um todo. Trump, que contraiu covid-19 no quarto trimestre de 2020, evitava seu uso e realizou comícios de campanha com a participação de multidões de pessoas em grande medida sem máscara. A campanha de Biden inicialmente se restringiu a eventos virtuais, antes de se expandir para reuniões marcadas pelo uso de máscara e pela adoção de medidas de distanciamento social.
Viam-se poucas máscaras na manhã de ontem, na cerimônia em que Trump deixou Washington. Falando na base de Andrews, em Maryland, Trump retratou seu governo como vítima do vírus. “Fomos atingidos. Ninguém nos culpa por isso. O mundo inteiro pegou”, disse ele sobre os prejuízos econômicos causados pela pandemia. Posteriormente decantou o desenvolvimento de uma vacina como “um milagre”, antes de prestar condolências a pessoas e famílias impactadas pelo vírus.