Valor econômico, v. 21, n. 5172, 21/01/2021. Mundo, p. A15
Bolsonaro ressalta defesa da Amazônia em carta a Biden
Fabio Murakawa
21/01/2021
Bolsonaro adota tom conciliador em carta ao novo presidente dos EUA, Jor Biden. Ele destacou medidas de proteção ambiental na Amazônia, apesar do avanço do desmatamento
Em carta ao novo presidente dos EUA, o democrata Joe Biden, o presidente Jair Bolsonaro ressaltou a defesa do meio ambiente e a proteção da Amazônia, temas que estão no topo da agenda do americano e que vêm sendo o principal ponto de atrito entre ambos.
Bolsonaro usou o Twitter para divulgar a correspondência, que veio a público no momento em que ainda aconteciam em Wa-shington os eventos relacionados à posse de Biden. Analistas vêm destacando o risco de uma piora na relação entre os dois países.
“Estamos prontos [...] a continuar nossa parceria em prol do desenvolvimento sustentável e da proteção do meio ambiente, em especial a Amazônia”, escreveu, apesar do avanço grande do desmatamento na Amazônia.
Bolsonaro citou ainda ao Acordo de Paris para o clima. Biden vai reinserir os EUA no acordo, anulando um ato do ex-presidente Donald Trump, aliado de Bolsonaro.
“Noto, a propósito, que o Brasil demonstrou seu compromisso com o Acordo de Paris com a apresentação de suas novas metas nacionais.”, disse o presidente.
Em 2019, Bolsonaro falou em retirar também o Brasil do acordo, seguindo os passos de Trump.
“Se fosse bom, o norte-americano não tinha saído. Nós, por enquanto, estamos lá. Se vamos sair um dia? Depende de quem estiver ao nosso lado. Certas brigas eu só posso ‘comprar se tiver gente forte do meu lado”, disse na ocasião.
Na carta, Bolsonaro disse que “será fundamental aprofundar o diálogo na área energética” para que ter êxito no combate à mudança do clima. E lembrou que “o Brasil tem uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo e, junto com os EUA, é um dos maiores produtores de biocombustíveis”. Para ele, "o Brasil está pronto para aumentar a cooperação na temática das energias limpas”.
A agenda ambiental tem sido um foco de desavenças entre Bolsonaro e Biden. Em um debate com Trump antes da eleição, o democrata ameaçou retaliar o Brasil caso não houvesse uma queda no desmatamento da Amazônia.
Bolsonaro reagiu de maneira caricata em evento no Palácio do Planalto. Em 10 de novembro, uma semana após a vitória eleitoral de Biden, o presidente insinuou a possibilidade de uma guerra com os EUA. “Quando acaba a saliva, tem que ter pólvora”, afirmou.
Na carta enviada ontem, porém, o tom foi conciliador. Bolsonaro realçou que ambos os países são “as duas maiores democracias do mundo ocidental”. Afirmou ser “de longa data grande admirador dos Estados Unidos” e disse que, desde que assumiu a Presidência, passou “a corrigir os equívocos de governos brasileiros anteriores, que afastaram o Brasil dos EUA”.
“No campo econômico, o Brasil, assim como os empresários de nossos dois países, tem interesse em um abrangente acordo de livre comércio, que gere mais empregos e investimentos e aumente a competitividade global de nossas empresas”, disse.
Bolsonaro também citou a atuação dos países nos fóruns internacionais. E, fazendo uma crítica velada à China, sinalizou que continuará alinhado aos americanos contra o asiáticos na Organização Mundial do Comércio (OMC).
“O Brasil está pronto para continuar cooperando com os EUA para a reforma da governança internacional”, disse. “Isso se aplica, por exemplo, à OMC, onde queremos destravar as negociações e evitar as distorções de economias que não seguem as regras de mercado.”
Bolsonaro disse ainda que espera contar com o apoio dos americanos para o ingresso do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). “Nosso processo de acessão terá, também, impacto fundamental para as reformas econômicas e sociais em curso em nosso país.”