Título: Lula pede ajuda a Damasco
Autor: Olivia Hirsch
Fonte: Jornal do Brasil, 26/01/2005, Internacional, p. A7

Presidente sírio diz que fará o possível para auxiliar nas buscas pelo brasileiro O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recorreu ontem ao governante sírio, Bachar al Assad, quem visitou em 2003, para que ajude nas buscas pelo engenheiro brasileiro João José Vasconcelos Jr., seqüestrado semana passada no Iraque. Lula classificou o caso como uma ''questão humanitária e de solidariedade''. - O presidente da Síria reagiu de maneira muito positiva e disse que fará tudo o que for possível - afirmou o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim. Segundo o ministro, Al Assad disse acreditar que a própria população iraquiana verá esse seqüestro como totalmente injustificável, já que o Brasil teve uma posição muito clara contra a invasão do Iraque. Amorim, que acha que as boas relações entre Brasília e Damasco vão ajudar a facilitar as negociações, revelou ainda que o Brasil está fazendo contato com outros países por vias diplomáticas oficiais. Estão sendo procurados tanto governos da região como países que já tiveram cidadãos na mesma situação. Al Assad - que retornou a ligação de Lula de Moscou, onde faz visita oficial -, também foi informado pelo presidente sobre a ida do embaixador Afonso Celso Ouro Preto à região e levantou-se a possibilidade de que se desloque até Damasco. Para Nizar Messari, professor do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio, o fato de a Síria abrigar um grande número de refugiados do Partido Baath iraquiano, do ex-ditador Saddam Hussein, deve ter sido determinante para o pedido do governo brasileiro. - Damasco pode pressionar os baathistas que estão em seu território e obter informações sobre os rebeldes que seqüestraram o brasileiro - explicou ao JB. A família do refém se mostrou satisfeita com o empenho do governo nos últimos dias. - Estávamos pedindo essa presença mais forte, era o que queríamos. O povo precisava ver o envolvimento do governo - disse Karla Vasconcelos, irmã do engenheiro. Hoje, a Confederação Nacional das Entidades Líbano-Brasileiras (CNELB) e a Associação de Muçulmanos no Brasil farão um apelo, em árabe, nos canais Al Arabyia e Al Jazira pela libertação do brasileiro. - Vamos falar como é o Brasil, um país que recebeu de braços abertos muitos árabes, que se opôs à guerra. Vamos tentar colocar isso na cabeça dos seqüestradores para ajudar o 'menino' - afirmou o libanês Iskandar Riachi, conselheiro especial da CNELB. - Estão cometendo um erro muito grande. Essa é uma guerra que tem outros inimigos. Ghassan Khouri, cunhado de Vasconcelos, não excluiu a possibilidade de a família participar do apelo. O texto final deverá ficar pronto hoje e a fita será enviada no mesmo dia para os canais árabes. Foi a Al Jazira que divulgou o vídeo, no sábado, exibindo documentos e pertences do engenheiro. À iniciativa das organizações no Brasil, pode se somar um apelo da Associação dos Clérigos Muçulmanos do Iraque. Segundo o xeque Omaar Raagheeb, porta-voz da instituição sunita, eles aguardam apenas uma solicitação de Brasília. Em abril de 2004, três reféns japoneses foram soltos depois de a associação ter divulgado um comunicado pedindo a libertação dos civis. Eles estavam em poder do grupo Brigadas de Mujahedin, o mesmo que assumiu o seqüestro de Vasconcelos. O Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea), do Brasil, também fez um ''pedido de ajuda'' à Federação de Engenheiros Árabes, em uma carta enviada ontem à organização, que tem sede no Líbano. ''O nosso pesar pelo ato terrorista contra o engenheiro brasileiro é ainda maior porque somos cidadãos amigos. Vasconcelos foi para o Iraque a trabalho, certo de que estaria contribuindo para a construção de condições de volta à normalidade'', diz o texto. Vasconcelos foi capturado numa emboscada quarta-feira em Beiji, Norte do Iraque, quando se dirigia ao aeroporto da cidade. Ele não tinha planos de voltar ao país.