Título: Mais emprego, menos renda
Autor: Samantha Lima
Fonte: Jornal do Brasil, 26/01/2005, Economia, p. A17

Nível de ocupação melhora em 2004, mas ganho mensal do trabalhador cai meio salário mínimo desde 2002, aponta IBGE O ano passado foi um pouco menos cruel para quem procurou emprego, mas atingiu em cheio o bolso do trabalhador, aponta a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) divulgada ontem pelo IBGE. A taxa média de desemprego nas seis maiores regiões metropolitanas do país foi de 11,5%, contra 12,3% no ano anterior. Mas, pelo segundo ano seguido, a renda média real do trabalhador caiu, desta vez de R$ 914,74 em 2003 para R$ 907,94, uma contração de 0,75%. - A renda vem em queda desde 2002, e só se recuperou no fim do trimestre de 2004 - analisa Cimar Pereira, gerente da PME. - Mas essa recuperação está longe de atingir os níveis perdidos há três anos. A perda no período foi de quase meio salário mínimo - afirma, comentando que a maior oferta de empregos na construção civil e em serviços domésticos, onde os salários são mais baixos, seria um dos fatores que explicam a perda salarial média. No Estado do Rio, por exemplo, o salário médio de 2002 atingiu R$ 1.011,87, caindo para R$ 862,39 em 2003 e R$ 851,39 em 2004 - perda de 15,9% no período. Em dezembro, porém, a a taxa de desemprego caiu para um dígito pela primeira vez desde 2001, quando se iniciou a série: registrou 9,6% - ou 2,1 milhões de pessoas, contra 2,33 milhões em dezembro de 2003. O índice é um ponto percentual inferior ao de novembro (10,6%) e 1,3 ponto abaixo do registrado em dezembro anterior (10,9%). O número de vagas ocupadas, no entanto, não avançou no período. De acordo com o gerente da PME, Cimar Pereira, a tradução é que a queda no desemprego mensal não se deveu a um aumento no número de vagas, mas ao fato de menos pessoas estarem procurando ocupação no período. - Em dezembro, tivemos menos dias úteis, e as pessoas dispensadas entre o Natal e o Ano Novo não procuraram emprego. Os dois fatores influenciam o resultado - explica Pereira. Os dados de dezembro da PME também revelam que a queda na desocupação baseou-se na criação de mais empregos informais, já que, na comparação com novembro, o segmento avançou 4,1%, ao passo que os empregos formais tiveram pequena queda de 0,3%. Os trabalhadores por conta própria caíram 1,1% e o número de empregadores reduziu-se 0,9%. O salário médio, de R$ 895,40, representa uma queda de 1,8% no confronto com novembro. No comércio, os resultados comemorados nas vendas, especialmente pelos setores automotivo e de eletroeletrônicos, não se traduziram em maior oferta de empregos: o setor contraiu-se 1,2% na comparação com dezembro de 2003, tendo fechado 46 mil postos de trabalho. Em relação a novembro, o crescimento foi de 1,2%, considerado ''estável'' pelo IBGE; - O comércio teve realmente um desempenho fraco. Em dezembro de 2003, por exemplo, o avanço no setor tinha sido de 3,3% na comparação com o ano anterior - constatou Pereira. Outra revelação dos dados do IBGE é que o recente anúncio de aumento da carga tributária para empresas prestadoras de serviço, estipulado pela Medida Provisória 232, atingirá em cheio o setor de maior destaque na criação de empregos em dezembro. Essas empresas, segundo especialistas, têm um grande percentual de optantes pelo sistema de lucro presumido e, pela MP, terão elevada em 25% a base de cálculo para a Contribuição Sobre Lucro Líquido (CSLL). Nelas, o avanço foi de 183 mil vagas em dezembro de 2004, ante igual mês em 2003, ou 7,3%. Foi a maior variação em número absoluto de vagas. Para o presidente do Sindicato das Empresas de Informática do Rio, Benito Paret, os dados do IBGE mostram o equívoco da medida. - Pelos cálculos preliminares, o setor avançou pelo menos 10% em número de vagas, mas é muito sensível a aumento de custos. Com aumento da carga tributária, nossa única alternativa é parar de investir em geração de empregos - lamenta.