O Estado de São Paulo, n.46347, 08/09/2020. Internacional, p.A9

 

Índia passa o Brasil é o 2º em casos de contágios

08/09/2020

 

 

País asiático chega aos 4,2 milhões de notificações, mas tem menos mortes

A Índia se tornou ontem o segundo país no mundo com o maior número de casos de covid-19, ultrapassando o Brasil e ficando atrás apenas dos Estados Unidos. O país registrou ontem 90.802 novas infecções em 24 horas, chegando agora a mais de 4,2 milhões de casos.

O Ministério da Saúde da Índia também relatou 1.016 mortes ontem. No total, o país tem mais de 71 mil mortos – nos EUA, são 188,5 mil e no Brasil, 127 mil.

A Índia tem registrado o maior número de casos diários de coronavírus no mundo há quase um mês, enquanto o governo pressiona para abrir empresas para reativar uma economia em contração – o PIB do país registrou uma queda de 24% no segundo trimestre, a maior taxa em todo o planeta.

Segundo o virologista Shahid Jameel, da Wellcome Trust/dbt India Alliance, a atual taxa de contaminação é "bastante alarmante". "Nas últimas duas semanas, a média aumentou de cerca de 65 mil para 83 mil casos diários, uma alta de aproximadamente 27% em duas semanas e 2% ao dia", disse Jameel à France Press.

Diferentemente dos Estados Unidos e do Brasil, países em que o número de novos casos diminuiu nas últimas semanas, o surto na Índia não dá sinais de que atingiu o pico.

De acordo com as autoridades sanitárias indianas, as infecções se espalharam das principais cidades para todos os cantos do país, incluindo áreas rurais que são mal equipadas para testar e tratar pacientes.

Conter e tratar os casos de coronavírus "será muito mais difícil e desafiador", disse SP Kalantri, professor de medicina do Instituto Mahatma Gandhi de Ciências Médicas. "Se essa tendência continuar, o pior ainda está por vir."

No início da pandemia, a Índia instituiu o maior bloqueio mundial para tentar conter a pandemia – o país tem 1,3 bilhão de habitantes. As restrições, porém, devastaram a economia do país e não conseguiram reverter a trajetória do surto. No início de junho, o governo do premiê indiano, Narendra Modi, mudou de rumo.

Jayaprakash Muliyil, médico que é uma referência em epidemiologia na Índia, afirmou que os casos vão continuar a subir nas próximas semanas. Ele estima que os registros diários podem dobrar no próximo mês antes de começar a recuar.

O governo revogou todas as medidas de isolamento, embora as escolas permaneçam fechadas e grandes reuniões ainda sejam proibidas. Ontem, o metrô de Nova Délhi voltou a transportar passageiros pela primeira vez em mais de 5 meses.

Especialistas disseram acreditar que o menor número de mortes na Índia pode ser em parte resultado de sua população jovem. Outros especulam que algum fator imunológico pode estar tornando a doença menos grave. No entanto, ainda não há estudos consolidados que amparem essas teses. / WP, AP e AFP