Correio braziliense, n. 21022, 14/12/2020. Política, p. 4

 

Ficha limpa: Lira nega acordo

14/12/2020

 

 

Líder do Centrão e candidato do Planalto à Presidência da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) rebateu pelo Twitter, ontem, as acusações de que estaria prometendo nos bastidores mudanças na Lei da Ficha Limpa em troca de votos da oposição na eleição para o comando da Casa, marcada para 1º de fevereiro. O aliado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) reforçou, ainda, o compromisso com o teto de gastos — que limita os gastos públicos ao crescimento da inflação.

"Ao chegarmos à reta final das sessões legislativas de 2020, nesta semana, reafirmamos a nossa disposição de votar projetos essenciais. Alguns deles acabaram empurrados para 2021, quando precisaremos da Câmara uma agenda eficiente para garantir a retomada econômica do Brasil", afirmou. "É importante, nesse processo, olharmos pelo equilíbrio fiscal do país, limitado ao teto de gastos, desfazendo informações equivocadas publicadas. Movimento que adiciona um falso apoio a mudanças na Lei de Ficha Limpa. Não há!", enfatizou o parlamentar, na rede social.

O nome de Arthur Lira ganhou força para a eleição no parlamento após o Supremo Tribunal Federal (STF) vetar, por maioria, a reeleição nas presidências da Câmara e do Senado. O deputado Rodrigo Maia, que chefia a Câmara no momento, é visto como opositor do governo. Lira é um nome que agrada ao Planalto, e também tenta receber apoio do PT.

A articulação gera uma crise interna na sigla, que ficou evidenciada com um tuíte, publicado, ontem, pelo deputado Rui Falcão (PT-SP). "Por uma candidatura de oposição para derrotar Bolsonaro na eleição da Mesa da Câmara! O PT não pode votar no candidato do governo. Vacina para todos e todas. Impeachment já", escreveu.

Repúdio
Na quarta-feira passada, o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, organização que reúne sob seu guarda-chuva uma série de entidades da sociedade civil para defender a agenda anticorrupção, reagiu ao suposto aceno de Lira a partidos de esquerda e centro-esquerda sobre mudanças na Ficha Limpa. Em nota pública de repúdio, a organização classificou o movimento como "barganha" e convocou a sociedade a acompanhar o processo de sucessão na Casa.

Os 133 votos dos partidos de oposição são o fiel da balança da disputa entre o líder do Centrão e o candidato — ainda não definido — que será apoiado pelo atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

O Palácio do Planalto tem atuado constantemente para viabilizar a eleição de Lira. Como mostrou o Estadão, é no gabinete do ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, que deputados têm participado de reuniões para ouvir os argumentos do governo em defesa da eleição do líder do Centrão. De lá, saem com promessas de emendas parlamentares, algumas além daquelas a que já têm direito, e de cargos a preencher em seus redutos eleitorais.