Correio braziliense, n. 21022, 14/12/2020. Mundo, p. 10

 

Pandemia fora de controle

14/12/2020

 

 

Incapaz de frear a segunda onda de covid-19, a Alemanha decretou um confinamento parcial a partir de quarta-feira, até 10 de janeiro, que inclui o fechamento de estabelecimentos comerciais não essenciais, escolas e creches. A chanceler alemã, Angela Merkel, citou o "número elevado de falecimentos" devido à epidemia de covid-19 e o "crescimento exponencial" das infecções. "Somos obrigados a agir e agimos agora", disse Merkel.

Com este confinamento parcial, as empresas deverão permitir aos funcionários que trabalhem de casa ou facilitar as férias durante as próximas três semanas e meia "para aplicar em todo o país o princípio 'fique em casa'". As medidas foram adotadas por Merkel após uma reunião, ontem, com os 16 líderes regionais dos estados da federação. "A pandemia está fora de controle", advertiu o governante da Baviera, Markus Söder, em uma entrevista coletiva ao lado da chanceler e do ministro das Finanças, Olaf Scholz. "É uma catástrofe que afeta mais as nossas vidas que qualquer outra crise nos últimos 50 anos", completou.

Na prática, os alemães estarão submetidos a um confinamento parecido ao da primavera (Hemisfério Norte, outono no Brasil), durante a primeira onda de covid-19. Os contatos sociais devem ser limitados ao máximo de cinco adultos de duas residências diferentes e terão que ser muito restritos de 24 a 26 de dezembro, quando os cidadãos serão autorizados apenas a encontrar os parentes mais próximos. Além disso, quem deseja celebrar o Natal terá de reduzir os contatos nos sete dias anteriores às reuniões familiares. Também será proibida a venda de bebidas alcoólicas em vias públicas a partir de quarta-feira.

Após seis semanas de fechamento total de restaurantes, bares, teatros, cinemas, museus e centros esportivos, a Alemanha constatou que estas restrições são insuficientes, sobretudo para as festas de fim de ano, quando as compras ficam mais intensas. "A situação continua sendo muito grave. Piorou desde a semana passada", afirmou, na quinta-feira, Lothar Wieler, presidente do Instituto de Vigilância Sanitária Robert Koch (RKI). Ele disse que a epidemia continua avançando, porque a população não reduziu os contatos sociais de maneira suficiente.

O número de novas infecções diárias aproximou-se de 30 mil na sexta-feira e no sábado, muito acima da média diária da primeira onda, que o país conseguiu controlar de modo mais eficiente que a maioria das nações europeias. O recorde de mortes, em apenas um dia, foi superado na quinta-feira, com 598. Ontem, os números registraram queda, com 20.200 novas infecções em 24 horas e 321 mortes, mas, durante os fins de semana, muitos casos não são comunicados no mesmo dia.
O presidente do RKI acredita que a situação do país também se deve ao "cansaço" da população, depois de quase 10 meses de restrições inéditas. "Devemos intensificar urgentemente, e ainda mais, os esforços", declarou na sexta-feira o presidente alemão Frank-Walter Steinmeier, a autoridade moral do país.

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EUA iniciam operação de guerra

14/12/2020

 

 

Milhões de vacinas contra a covid-19, armazenadas a -70°C, estão sendo enviadas para todos os cantos dos Estados Unidos: uma gigantesca operação de distribuição logística que começou, ontem, com o objetivo de administrar, hoje, as primeiras doses.

Um exército de caminhões carregados com milhares de doses da vacina Pfizer/BioNTech, embaladas em caixas contendo até 4.725 injeções cada, deixou a fábrica da Pfizer em Kalamazoo, Michigan (norte), ontem, rumo a centros estratégicos das empresas UPS e FedEx parcel services, que serão responsáveis pela distribuição.

A Pfizer estima que 20 aviões transportarão as vacinas diariamente para populações de todo o país, incluindo a tribo nativa americana dos Navajo, que foi duramente atingida pela pandemia.
O objetivo é entregar o primeiro lote de vacinas em 24 horas a todos os hospitais e locais que o solicitarem e vacinar os primeiros americanos imediatamente. "Tenho esperança de que isso seja feito muito rapidamente. Esperançosamente, nesta segunda-feira", disse o chefe da Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos, Stephen Hahn.

Por precaução, das 6,4 milhões de doses disponíveis, apenas metade será entregue, sendo o restante reservado para a segunda dose necessária três semanas depois. Nessa primeira fase, cerca de três milhões de pessoas serão imunizadas. Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) recomendaram priorizar residentes de lares de idosos (3 milhões de pessoas) e profissionais de saúde (21 milhões).

A vacina da dupla alemã-americana Pfizer/BioNTech, da qual o governo dos Estados Unidos comprou 100 milhões de doses, é 95% eficaz e começou a ser administrada no Reino Unido.

Porém, diante dessas boas notícias, as autoridades temem que os americanos baixem a guarda. O país continua a registrar um número recorde de infecções, regularmente excedendo 200 mil casos e atingindo até 3 mil mortes diárias. Os Estados Unidos são o país mais afetado pela pandemia, com mais de 16 milhões de infecções registradas e quase 300 mil mortes por covid-19.
Para atingir a imunidade coletiva, sinônimo de retorno à normalidade, entre 75% e 80% da população dos Estados Unidos precisaria ser vacinada, alertam os especialistas. Isso não acontecerá antes de "maio ou junho", segundo Moncef Slaoui, assessor científico da operação de vacinação do governo.