Título: O nepotismo também vai às urnas
Autor: Correia, Karla
Fonte: Jornal do Brasil, 05/10/2008, Eleições Muncipais, p. A23

Parentes de políticos de todo o país transformam Executivo e Legislativo em feudo familiar.

BRASÍLIA

Candidato à prefeitura de Rio Largo (AL), Fernando James (PTB) tem no pai, o senador Fernando Collor de Mello, um ídolo e um conselheiro. Collor foi uma das primeiras pessoas a quem o jovem político, hoje com 28 anos, consultou quando decidiu concorrer, em 2004, a uma vaga na Câmara de Vereadores da cidade, terra natal de seu avô, o ex-governador de Alagoas Arnon de Melo. Sob a influência do legado político da família, orgulha-se de ter sido o vereador "mais votado de sua coligação". No pleito deste ano, está acompanhado, no clã, por Euclides Mello (PRB), primo de Collor e candidato à prefeitura de Marechal Deodoro (AL).

¿ Ele (Fernando Collor) é um fenômeno da política nacional e mundial, porque nenhum político do Brasil conseguiu ocupar tantos cargos de relevo no Executivo quanto meu pai ¿ recita Fernando James, expoente de uma geração de candidatos que, além de crescer à sombra do capital político de pais, avós, tios e afins, entraram em campanha no pleito deste ano com a missão clara de perpetuar o ciclo de poder em seus clãs. Consciente da força de seu nome entre o eleitorado alagoano, Collor se licenciou do cargo de senador para acompanhar de perto a candidatura dos parentes. Igualmente empenhados, outros três senadores ¿ Mão Santa (PMDB-PI), Jayme Campos (DEM-MT) e Romeu Tuma (PTB-SP) ¿ todos com parentes disputando cargos, lideram gastos com transporte e estadia da Casa, segundo levantamento da Ong Transparência Brasil.

Oligarquias em marcha

¿ Existe uma dinâmica própria dos grupos oligárquicos que se renova pela eleição dos herdeiros do poder ¿ observa o coordenador do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), professor Ernani Carvalho, que cita, em Pernambuco, as famílias de Jarbas Vasconcelos e do ex-governador Miguel Arraes como os grupos mais poderosos do Estado.

¿ Os políticos já estabelecidos ganham visibilidade e mantêm vivo o contato com o eleitorado ao participar das campanhas de seus parentes, que se beneficiam como tributários do poder acumulado na família. É um sistema de retroalimentação que permite a perpetuação das oligarquias no comando e, por outro lado, age também para afastar da disputa os desafetos.

Mesma lógica

A lógica se repete pelos demais Estados. No Pará, Hélder Barbalho (PMDB), filho do deputado Jader Barbalho (PMDB-PA), tenta a reeleição na prefeitura de Ananindeua em uma campanha fortemente marcada pelo patrimônio político conquistado por seu pai. Sob sua gestão, cresceram os bairros da Jaderlândia e do Jardim Jader Barbalho. Na Bahia, Antonio Carlos Magalhães Neto chegou a liderar a disputa pela prefeitura de Salvador com a missão de ressuscitar a chama do Carlismo no Estado.

¿ Vivi a política desde pequeno e sempre vi coisas que poderiam ser feitas de forma diferente ¿ comenta Daniel Vilela (PMDB), filho do ex-governador de Goiás e ex-senador Maguito Vilela (PMDB), e candidato a uma vaga na Câmara de Vereadores de Goiânia.

É a primeira vez que disputa um cargo eletivo. Segue os passos do primo, Leandro Vilela (PMDB-GO), 32 anos, que, à sombra do tio governador, começou como vereador na cidade de Jataí (GO) em 1996, foi reeleito para um segundo mandato e de lá partiu para o cargo de deputado federal que ocupa já há duas legislaturas.

¿ Ter um pai com uma carreira de destaque na política ajuda mesmo na eleição, não nego. Nem tenho porque me envergonhar de ter o apoio do meu pai para me eleger ¿ diz Daniel.