O Estado de São Paulo, n.46351, 12/09/2020. Metrópole, p.A24

 

Fumaça das queimadas chega ao Sul e ao Sudeste

André Borges

12/09/2020

 

 

Mancha formada na Amazônia e no Pantanal se move de MT e MS rumo a SP e Paraná, ocupando uma área de 3 mil quilômetros

A fumaça das queimadas que avançam descontroladamente sobre a Amazônia e o Pantanal já se alastram sobre os países vizinhos do Brasil e alcançam também municípios das Regiões Sudeste e Sul do País, em rotas que somam mais de 3 mil quilômetros de extensão. As imagens de satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram uma imensa mancha branca de fumaça encobrindo a região sul do Amazonas, seguindo por Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, rumo aos Estados de São Paulo e Paraná.

Segundo a Metsul, imagens de satélite mostram um denso corredor de fumaça que avança da região da Amazônia até o Rio Grande do Sul. Mas o instituto de meteorologia enfatiza que essa fumaça, que tem origem nos focos de queimadas, está avançando "primariamente em altitude e não perto da superfície". Isso significa que, no momento,

o que as pessoas podem ver na área mencionada é uma mudança na coloração do céu por causa disso – mas embaixo dela, mais próximo do solo, os índices de qualidade do ar não serão afetados por isso.

Até anteontem, os focos de incêndio no bioma Amazônia chegavam a 13.810 ocorrências, o equivalente a 70% do volume verificado nos 30 dias de setembro de 2019. No caso do Pantanal, em apenas dez dias de setembro foram relatados 2.550 focos de queimadas, 88% do volume registrado durante todo o mês de 2019. Os dados mostram que, a despeito de o governo anunciar esforços de combate aos crimes ambientais, com a entrada dos militares nas operações, este ano caminha para ser o mais devastador em relação a registros de incêndios e danos causados pelo fogo, superando os índices do ano passado. Como mostrou reportagem do Estadão na terça-feira, o número de focos de incêndio registrado no Pantanal entre janeiro e agosto deste ano equivale a tudo o que queimou no bioma nos seis anos anteriores, de 2014 a 2019.

Pantanal. Os dados do Inpe revelam que, entre 1.º de janeiro e 31 de agosto passados, foram registrados pelos satélites do instituto um total de 10.153 focos de incêndio no Pantanal, bioma que soma 150 mil quilômetros quadrados, localizados nos Estados de Mato Grosso (35%) e Mato Grosso do Sul (65%). O número de focos supera os 10.048 pontos de queimada registrados pelo Inpe entre 2014 e 2019.

Se comparado com os índices relatados no ano passado, o número deste ano é três vezes superior aos 3.165 focos de incêndio verificados entre janeiro e agosto de 2019. Em relação aos 603 focos confirmados em 2018, o cenário deste ano representa uma alta de 1.700%. No dia 31, uma densa fumaça ocasionada por incêndios florestais encobriu a cidade de Cuiabá. A fumaça foi proveniente de queimadas que ocorrem em regiões próximas, como Chapada dos Guimarães, Barão de Melgaço, Poconé e Santo Antônio.

Saúde. A fumaça provocada pelas queimadas florestais no Pantanal traz prejuízos à saúde principalmente de doentes crônicos, idosos, bebês e gestantes que moram na região atingida. Esse tipo de incêndio libera um material particulado fino, gases como dióxido de nitrogênio, monóxido de carbono e hidrocarbonetos voláteis, que entram pelas vias respiratórias até chegar ao fundo do pulmão, onde ocorrem as trocas gasosas. "Metais também podem ficar grudados no material particulado. Quando as plantas crescem, absorvem metais que estão no solo, e esses podem ser espalhados com as queimadas", disse o pneumologista Ubiratan de Paula Santos, diretor da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia.

A fumaça de queimadas florestais inflama narinas e pulmões. "Provoca inflamação nos pulmões. Pode ainda descompensar pacientes que têm doenças crônicas e cardiovasculares", explicou o pneumologista.