O Estado de São Paulo, n.46352, 13/09/2020. Internacional, p.A10

 

Aquecimento global explica em parte incêndios nos EUA

13/09/2020

 

 

Chamas são combinação de mudança climática, alteração no uso da terra e manejo do fogo, dizem especialistas

PORTLAND, OREGON

Autoridades americanas se preparavam para um "aumento considerável no número de mortes" nos incêndios que devastam a Costa Oeste do país, e já deixaram 27 mortos nos três estados mais atingidos: Califórnia, Oregon e Washington. Ao menos meio milhão de pessoas foram retiradas de suas casas e centenas estão desaparecidas com a rápida propagação das chamas.

Os incêndios florestais são um processo natural de muitos ecossistemas da Costa Oeste dos EUA, servindo para rejuvenescer florestas e pastagens. Eles sempre aconteceram, mas a escala, intensidade, velocidade e localização são inéditos.

Segundo especialistas, eles fazem parte de uma combinação perigosa de aquecimento global, ocupação das cidades, mudanças no uso da terra e manejo do fogo que se combinaram para criar uma mistura de florestas em chamas, casas carbonizadas e ar sufocante.

"Nós estamos trabalhando com um número considerável de mortos, segundo o que sabemos sobre o número de edifícios destruídos", disse Andrew Phelps, diretor dos serviços de

gestão de emergências de Oregon. "É provável que seja uma tragédia em massa."

As chamas que atingem o Oregon são o retrato de uma temporada de incêndios recorde. As florestas entre Eugene e Portland, no Oregon, não viam incêndios tão graves havia décadas, dizem os especialistas. A mudança maior desta vez são as condições excepcionalmente secas, por causa da falta de chuvas no verão, normalmente úmido, combinadas com ventos incomumente fortes e quentes do leste.

"Estamos vendo incêndios em lugares que normalmente não vemos", disse Crystal Kolden, professora de ciência do fogo na Universidade da Califórnia. "Normalmente está muito úmido para queimar desse jeito."

Os incêndios são comuns no leste do Estado, normalmente seco, diz Philip Mote, cientista climático da Universidade Estadual do Oregon. Mas a encosta oeste do Estado, onde fica parte da Cordilheira das Cascatas, é normalmente mais úmida, porque capta a maior parte da umidade que chega do Oceano Pacífico.

Essa umidade protetora desapareceu, em grande parte porque as mudanças climáticas alteraram os padrões de precipitação e temperatura. Tim Brown, diretor do Western Regional Climate Center, disse que o calor extremo fez com que a vegetação se tornasse seca e queimasse rapidamente.

Temperatura, umidade, vento e radiação solar se combinam para secar os arbustos e são os elementos-chave para o fogo. Essas condições de seca foram provavelmente agravadas pela mudança climática, diz Meg Krawchuk, professora da Faculdade Florestal do Estado de Oregon. E tiveram o efeito de "preparar a paisagem para um incêndio florestal, agravado pela tempestade de vento" que espalhou as chamas.

Esses ventos foram os mais fortes que o Estado viu em 30 anos, disse Clark. E quando eles cruzaram as montanhas, os ventos correram pelos desfiladeiros dos rios, que comprimiram o ar, aquecendo-o ainda mais e empurrando-o para o oeste como um fole.

A lição desta semana é que o Estado agora deve se preparar para mais do mesmo, disse Philip Mote, o cientista climático Universidade Estadual do Oregon. Ele lembrou que o calor extremo também levou a uma baixa acumulação de neve. "Esta situação, de grandes incêndios e anos com pouca neve, são o que eu e meus colegas que estudamos as mudanças climáticas por 20 anos dizemos que aconteceriam", disse ele. "E agora elas estão acontecendo."/ NYT e W. POST