O Estado de São Paulo, n.46354, 15/09/2020. Política, p.A5

 

Witzel é acusado de chefiar grupo criminoso

Paulo Roberto Netto

15/09/2020

 

 

Procuradoria denuncia governador afastado e mais 11 por desvios de recursos públicos

A subprocuradora-geral da República Lindôra Araújo denunciou ontem o governador afastado do Rio, Wilson Witzel (PSC), sob acusação de "chefiar" uma organização criminosa que desviava recursos públicos do Estado. A mulher de Witzel, a advogada Helena Witzel, o presidente do PSC, Pastor Everaldo, e outros nove investigados também foram denunciados.

A denúncia se baseia nas operações Favorito, Placebo e Tris in Idem, que, segundo os investigadores, miraram esquema de desvio de verbas semelhante ao conduzido nas gestões dos emedebistas Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão, ambos presos na Lava Jato do Rio.

De acordo com a Procuradoria, Witzel e Pastor Everaldo participavam do "núcleo político" da organização, e tinham participação ativa nos crimes conduzidos pelo grupo. O governador afastado é acusado de "lotear" recursos públicos para receber propina, lavada por meio do escritório de advocacia de sua mulher, segundo o MP.

Afastado do cargo desde o dia 28 de agosto, por liminar do ministro Benedito Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Witzel apresentou ontem um novo recurso ao Supremo Tribunal Federal para tentar ser reconduzido ao cargo. Pedido similar já havia sido feito à Corte, mas foi negado pelo ministro Dias Toffoli.

Além do "núcleo político", a Procuradoria cita um "núcleo econômico" do esquema que seria formado por empresários com interesses em contratos públicos – eles ofereciam propina em troca de licitações. Um terceiro grupo, o "administrativo", era integrado pelos ex-secretários Edmar Santos, hoje delator, e Lucas Tristão. É apontado ainda o "núcleo financeiro-operacional", responsável por lavar a propina – é nele que se encontra Helena, conforme a Procuradoria.

'Caixinha'. Pastor Everaldo, que concorreu à Presidência da República em 2014, é acusado de instituir uma "caixinha de propinas" na área da Saúde, comandando orçamento, contratações, distribuição de cargos e pagamentos a prestadores de serviço e repasses a municípios.

Everaldo teve a prisão preventiva decretada no último dia 5 pelo ministro Benedito Gonçalves. Ele havia sido detido em caráter temporário no fim de agosto. "Na Saúde o grupo instituiu um esquema de geração de uma espécie de 'caixinha' para pagamentos de vantagens indevidas aos agentes públicos da organização criminosa, principalmente por meio do direcionamento de contratações de organizações sociais e na cobrança de um 'pedágio' sobre a destinação de restos a pagar aos fornecedores", escreveu Lindôra.

Defesas. Witzel disse ontem que reafirma sua "idoneidade". "Desafio quem quer que seja a comprovar um centavo que não esteja declarado no meu Imposto de Renda, compatível com a minha realidade financeira. Todo o meu patrimônio se resume à minha casa, no Grajaú, não tendo qualquer sinal exterior de riqueza que possa corroborar essa mentira." Pastor Everaldo afirmou que está à disposição das autoridades e que "reitera sua confiança na Justiça e na sua libertação". As defesas dos outros acusados não responderam até a conclusão desta edição.