O Estado de São Paulo, n.46354, 15/09/2020. Política, p.A5
Desembargadora diz que Crivella sabia de esquema
Caio Sartori
Pepita Ortega
Fausto Macedo
15/09/2020
Na decisão que levou ao cumprimento de mandados de busca e apreensão contra o prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos), na quinta-feira passada, a desembargadora Rosa Helena Penna Macedo Guita, do Primeiro Grupo de Câmaras Criminais do Tribunal de Justiça fluminense, apontou "não só a ciência, mas a anuência e suposta participação" do prefeito em um esquema que, segundo o Ministério Público do Rio, "atua sobre praticamente todas as áreas da prefeitura".
O despacho diz ainda que o relacionamento "patente" com Rafael Alves, apontado como "gerente do QG da propina", indica que o prefeito "não só anui com os esquemas criminosos, mas deles participa, chegando, inclusive, a assinar pessoalmente documentos a fim de viabilizar os negócios do grupo". Segundo as investigações, no "QG da propina" eram acertados pagamentos "por fora" para viabilizar contratos de empresas com o município.
'Subserviência'. O Ministério Público destacou que, no dia da primeira fase ostensiva das investigações, Crivella ligou para Rafael Alves para perguntar sobre um mandado de busca que era cumprido na Riotur. A ligação, porém, foi atendida pelo delegado que estava na residência do empresário cumprindo uma ordem judicial.
O aparelho, diz a desembargadora, estava escondido. "O teor das conversas escancara que Rafael Alves tem clara ascendência sobre o prefeito Marcello Crivella. A subserviência do prefeito a Rafael Alves é assustadora", declarou a magistrada.
Candidato à reeleição, Crivella disse que a operação foi uma tentativa de interferência na disputa. A defesa de Rafael Alves não foi localizada.