Título: Na Câmara, esforço para despistar oposição
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 01/03/2005, País, p. A4

A bancada governista quer concentrar forças nesta semana para votar o máximo de projetos em plenário. O objetivo é blindar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva dos ataques feitos pela oposição. O discurso de Lula em Vitória, afirmando que teria ocultado denúncias de corrupção praticadas durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, pode, paradoxalmente, aumentar a coesão dos partidos aliados. A estratégia começou a se desenhar no fim de semana e tem como um dos articuladores o chefe da Casa Civil, ministro José Dirceu. Ontem, foi a vez do ministro da coordenação política, Aldo Rebelo, reunir o líder do governo na Câmara, Professor Luizinho (PT-SP) e o líder do PT na Casa, Paulo Rocha (PA). Tudo para articular a resposta aos ataques da oposição.

- Temos que unificar a nossa ação, os nosso discursos, para garantir a governabilidade e proteger o presidente - justificou Rocha.

Para o petista, o momento serve para que o Câmara se debruce nas diversas matérias que estão prontas na pauta de votações. Rocha criticou a decisão dos tucanos de pedir abertura de processo contra Lula por crime de responsabilidade. Avalia que a crítica oposicionista ao discurso é apenas para atender interesses políticos de ocasião.

Após a derrota na eleição da presidência da Câmara, o Planalto espera contar com a lealdade dos aliados. Mesmo o PP parece preocupado em espantar o risco de uma instabilidade política. O líder do partido na Câmara, José Janene (PR), conversou longamente com José Dirceu no fim de semana e com o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE). Janene aposta que o presidente da Câmara será prudente na condução do processo.

Caberá a Severino decidir se dará ou não andamento ao pedido de abertura de processo contra Lula. O líder do PP acredita que não.

- Lula não cometeu um crime, apenas um desvio verbal. Não acredito que o deputado Severino pense diferente - resumiu Janene.

O PMDB também se mostra amistoso. O líder do partido na Câmara, Saraiva Felipe (MG), considera que a oposição deu uma repercussão exagerada do discurso de Lula, apenas para produzir fumaça e poluição política.

Para o líder do PSB, Renato Casagrande (ES), o esforço de votação do Congresso pode apagar também outro debate incômodo - o aumento do salário dos deputados. Segundo ele, isso é tão ou mais pernicioso que a polêmica em torno do discurso.

Ontem, a bancada de deputados do PSDB paulista ratificou a posição da Executiva Nacional, confirmando que votará contra o reajuste salarial. Enquanto isto, o segundo-vice presidente da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI), continua coletando assinaturas para garantir a votação do reajuste em caráter de urgência. A coleta foi interrompida na semana passada, pois Ciro teve problemas familiares. Já aderiram 140 deputados. São necessárias 257 assinaturas.