Correio braziliense, n. 21024, 16/12/2020. Política, p. 3

 

Senado rejeita indicado do Planalto

16/12/2020

 

 

Numa derrota para o governo Jair Bolsonaro e o chanceler Ernesto Araújo, o Senado rejeitou, ontem, a indicação do embaixador Fabio Mendes Marzano para ocupar a posição de delegado permanente do Brasil nas Nações Unidas, em Genebra, na Suíça. Essa é a primeira reprovação de um diplomata pelo plenário no atual governo. 

A rejeição ocorreu por ampla margem: 37 votos contrários a nove favoráveis, num sinal de fragilidade da base governista na Casa. Marzano havia sido aprovado pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, em parecer do senador Fernando Collor de Mello (Pros-AL). O placar na comissão foi de 13 a 0, favorável ao embaixador. Porém, o diplomata indispôs-se com a senadora Kátia Abreu (PP-TO) durante a sabatina. 

A senadora ruralista quis saber a posição do embaixador sobre entraves ao Acordo de Livre Comércio entre Mercosul e União Europeia por causa do desgaste brasileiro frente ao descontrole na preservação ambiental e citou o protecionismo do agronegócio europeu. Ele, porém, recusou-se a comentar, sob o argumento de que o assunto escapava ao foco da delegação em Genebra. Marzano alegou não ter “mandato” para falar, já que o tema não é atribuição de sua atual secretaria. A senadora, então, afirmou que a negativa “envergonhava o Itamaraty, o Senado e o Brasil”. Ela disse que o Itamaraty virou uma “casa dos terrores”, em que os diplomatas são tolhidos de expressar opiniões. A parlamentar indicou que trabalharia contra Marzano, embora já houvesse, naquele momento, votado a favor dele na comissão, o que não poderia ser desfeito. 

Marzano é homem de confiança de Ernesto Araújo. Secretário de Assuntos de Soberania Nacional e Cidadania, responde, por exemplo, por assuntos de defesa, Nações Unidas, direitos humanos, assistência consular e pela pauta ambiental, motivo de atritos diplomáticos e geopolíticos do governo. É considerado um diplomata muito religioso, católico, e articulado profissionalmente. Formado no Instituto Militar de Engenharia (IME), atua como vice-presidente da Associação dos Diplomatas Brasileiros. Chefiou a assessoria de Assuntos Internacionais do Supremo Tribunal Federal. Desde 1989 no Ministério das Relações Exteriores, serviu na Espanha, no Peru, na Venezuela e nos Estados Unidos e na Delegação do Brasil junto à Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). 

A pauta da liberdade religiosa é um dos eixos da política externa bolsonarista, e Marzano deveria atuar em campanha contra a “perseguição a cristãos”. Ele o nome para substituir a embaixadora Maria Nazareth Farani Azevêdo.