O Estado de São Paulo, n.46354, 15/09/2020. Economia, p.B6

 

Prévia do PIB do BC tem alta de 2,15% em julho

Eduardo Rodrigues

15/09/2020

 

 

Resultado indica retomada gradual, mas veio abaixo do esperado e, segundo analistas, reflete revisões do índice de meses anteriores

O nível de atividade da economia brasileira cresceu pelo terceiro mês seguido em julho, segundo números divulgados ontem pelo Banco Central.

O Índice de Atividade Econômica (IBC-BR), considerado uma "prévia" do Produto Interno Bruto (PIB), apresentou crescimento de 2,15% em julho, na comparação com o mês anterior. O número foi calculado após ajuste sazonal, uma espécie de "compensação" para comparar períodos diferentes.

O resultado, porém, ficou abaixo do esperado pelos analistas consultados pelo Projeções Broadcast, que projetavam alta de 3,30%.

Mas, segundo Carlos Pedroso, economista-chefe do Banco MUFG Brasil, o número abaixo do previsto se deu pela revisão do dado de junho: o Banco Central revisou o crescimento naquele mês de 4,89% para 5,32%. O dado de maio também foi revisado, de alta de 1,59% para 1,86%. Sem as mudanças, o número de julho seria de 3,54%, diz.

"As revisões do BC reforçam a questão de não mudarmos a nossa projeção para o PIB, porque esperávamos alta de 3,0% ante uma base um pouco menor", resume Pedroso. Ele manteve estimativa de alta de 6,0% no PIB do terceiro trimestre em relação ao segundo.

Pedroso explica que a continuidade do processo de flexibilização das medidas de distanciamento social deve sustentar uma retomada nessa intensidade. "Estamos chegando ao fim de setembro sem retrocesso na reabertura, e isso vai acabar favorecendo principalmente o setor de serviços", afirma.

De acordo com o economista, a tendência é de continuidade de uma recuperação gradual, com melhora progressiva no setor de serviços. Para o quarto trimestre, com a queda do valor do auxílio emergencial de R$ 600 para R$ 300 mensais, além de uma base de comparação menos depreciada, Pedroso espera crescimento de 3,50% no PIB. Em 2020, a economia deve ceder 5,60%, segundo o analista.

Para os economistas João Maurício Lemos Rosal e Homero Guizzo, da Guide Investimentos, o crescimento do IBC-BR de julho deixou o indicador 6,5% abaixo do nível de fevereiro. Com o resultado, seriam necessários quatro meses consecutivos com crescimentos marginais de 2,0% para que o índice retornasse ao nível pré-pandemia, calculam. "Essas ponderações deveriam ser feitas antes de chegar à conclusão de que estamos testemunhando uma recuperação em 'V' sustentável. O caminho de volta à atividade pré-covid é uma subida pedregosa, íngreme, que logo vai enfrentar a redução dos pagamentos do auxílio emergencial", escrevem os analistas em relatório.

Os resultados do IBC-BR, neste ano, refletem os efeitos da pandemia de covid-19, sentidos com maior intensidade na economia nos meses de março e abril. De maio em diante, os números mostram o início de uma reação.

Focus. Os economistas do mercado financeiro melhoraram sua estimativa para a queda do PIB neste ano, que passou de 5,31% para 5,11%.

A expectativa faz parte do boletim de mercado, conhecido como relatório "Focus", também divulgado ontem pelo BC. Os dados foram levantados na semana passada em pesquisa com mais de 100 instituições financeiras.

Alta e tombo

5,32%

Foi a alta revisada do IBC-BR em junho (antes, 4,89%). Mudança impactou resultado de julho

5,11%

é o tombo previsto para o PIB neste ano, apura Focus, do BC