Correio braziliense, n. 21025, 17/12/2020. Brasil, p. 6

 

Meio ambiente na rota do progresso

Carlos Alexandre de Souza 

17/12/2020

 

 

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) lançou um índice que contribui para medir o impacto ambiental da marcha para o progresso. O índice de desenvolvimento humano ajustado às pressões do planeta, o IDHP, considera as emissões de dióxido de carbono e a pegada material dos países (medida de extração de matéria-prima no mundo para atender à demanda nacional). Nesse ranking, o Brasil avançou dez posições, enquanto nações como a China recuaram.

Com o foco nesse novo índice, que mede as pressões dos países sobre o planeta, o PNUD lançou o Relatório de Desenvolvimento Humano 2020. O documento global traz também os resultados de desempenho brasileiro nas três dimensões do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH): saúde, educação e renda, referentes a 2019. Como o Correio adiantou na terça-feira, o IDH do Brasil cresceu de 0,762 para 0,765. No entanto, caiu cinco posições no ranking, em relação ao ano anterior, ficando em 84º lugar entre 189 países.

Os resultados apresentados pelo relatório foram objeto de debate em um webinar realizado na manhã de ontem. Participaram do encontro a representante residente do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) no Brasil, Katyna Argueta; o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles; a secretária-geral da Secretaria Ibero-Americana, Rebeca Grynspan; o presidente da Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), Sergio Gusmão; e a coordenadora da Unidade de Desenvolvimento Humano do PNUD no Brasil, a economista Betina Ferraz Barbosa.

Segundo relatório, o Brasil avançou em relação ao IDH, mas em ritmo mais lento do que o de outros países. Assim, a maior economia da América Latina perdeu posições. Apesar disso, o Brasil permanece no grupo de nações com alto índice de desenvolvimento humano. Quando se avalia o Brasil pelo novo índice de desenvolvimento humano ajustado às pressões do planeta, o IDHP, a colocação do país melhora. Sobe 10 posições, enquanto países desenvolvidos perdem pontuação. No ranking do IDHP, Brasil fica em 74° lugar, com 0,741. A China, por exemplo, perde 16 posições, registrando um IDHP de 0,671.

Desafios e avanços
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, avaliou os resultados do relatório. "Temos o desafio de melhorar a posição do Brasil no IDH global, apesar de termos o menor impacto quando focamos no índice que mede a pressão sobre o planeta, por nossas ações de preservação de florestas, uso de energias limpas e as boas práticas usadas na agricultura brasileira", pontuou.

Katyna Argueta, por sua vez, destacou a importância do novo índice de progresso humano, o IDHP, que considera as emissões de dióxido de carbono e a pegada material dos países (medida de extração de matéria-prima no mundo para atender à demanda nacional). "É chegado o momento de todos os países, ricos e pobres, redesenharem suas trajetórias de progresso, assumindo plenamente as tensões que estamos exercendo sobre a Terra e desmontando os enormes desequilíbrios de poder e de oportunidades que impedem a mudança", disse.

A economista Betina Ferraz, do PNUD, observou a relação entre o impacto da pandemia e as regiões mais vulneráveis socialmente. "A pandemia provocará uma crise no desenvolvimento humano sem precedentes. Os impactos dela ameaçam o progresso humano pela primeira vez desde que começou a ser medido, há 30 anos", alertou Ferraz.

O ministro do Meio Ambiente também demonstrou preocupação com o cenário. "Enquanto não melhorarmos as condições de vida da população, o meio ambiente sofrerá o impacto, as pessoas continuarão sendo cooptadas para atividades ilegais que pressionam o meio ambiente, como extração de madeira, grilagem de terras e garimpo. É importante, sim, colocar o homem no centro dessa preocupação. Importante também contarmos com o apoio e as parcerias de todos aqui representados", disse Ricardo Salles.

A secretária-geral da Secretaria Ibero-Americana, Rebeca Grynspan, ressaltou a importância do relatório, especialmente em um momento de pandemia. "Estou convencida de que a pandemia cristalizou transformações que estávamos percebendo nos últimos anos. Ousaria dizer que a pandemia marca de fato o início do do século XXI."

O presidente da ABDE, Sergio Gusmão, destacou as ações da entidade junto do sistema nacional de fomento a projetos de cunho socioambiental no país. Afirmou que há um conjunto de medidas sendo aplicadas para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável que o Brasil se comprometeu com os países do mundo na Agenda 20-30, da ONU.