Título: Câmara renovada, mas nem tão diferente
Autor: Thurler, Fernanda; Victal, Renata
Fonte: Jornal do Brasil, 07/10/2008, Eleições Municpais, p. A6

Em 51 edis, há 31 clientelistas e oito investigados.

Parece que mudou muito a Câmara Municipal do Rio, com índice de 43% de renovação de seus parlamentares. A se levar em conta, porém, o perfil dos vereadores, nada tende a funcionar de modo tão diferente. Pelo contrário, características que definiam o plenário anterior se acentuaram ainda mais no novo conjunto, agora aumentado para 51, um a mais do que no passado. Em um quadro de extrema fragmentação partidária, com a representação de nada menos do que 21 legendas, subiu o número de vereadores suspeitos de ligação com crimes (oito), assim como o daqueles de perfil fisiológico e clientelista (31). Outros 12 teriam perfil considerado de origem ideológica.

Apesar na derrota na candidatura para o Executivo, o DEM deve continuar a exercer papel de peso na Câmara, com oito vereadores próprios ¿ a maior bancada da Câmara. Mas a fragmentação geral pode dificultar alinhamentos futuros, de acordo com o cientista político e professor do Departamento de Sociologia e Política da PUC¿Rio, Ricardo Ismael.

- É muito grande a fragmentação partidária. Essa grande quantidade de partidos torna mais difícil a formação de maioria por parte do futuro prefeito, seja do PMDB do Eduardo Paes, ou do PV do Fernando Gabeira.

No caso do PMDB, há seis vereadores eleitos, enquanto o PV conta com apenas três.

¿ Então, qualquer um que vença o segundo turno, terá a missão de costurar uma aliança na Câmara porque haverá dificuldades nas negociações ¿ explica o pesquisador.

Paes reconhece esse desafio:

- Não teve nenhum partido que tenha preponderado nessa eleição. Isso mostra mais uma vez a necessidade de se construir arcos de alianças importantes até para dar governabilidade depois. Conversar com os partidos, estabelecer alianças programáticas para essa cidade porque tem que se governar com a câmara de vereadores ¿ afirma.

Perfis suspeitos

Gabeira também se preocupa com a composição da nova Câmara:

¿ Mantêm-se alguns problemas do passado como o das pessoas presas, acusadas de crimes, fichas-sujas. Mas o número de pessoas bem intencionadas também aumentou. Tivemos, por exemplo, três eleitos pelo PV, cinco pelo PSDB e 2 pelo PPS e outros vereadores que são aproveitáveis ¿ disse o candidato do PV.

O eleitorado reelegeu 26 vereadores na Câmara, sem dar importância a problemas na justiça, apontou ainda Ricardo Ismael.

é uma questão preocupante o envolvimento desses vereadores com alguns problemas na justiça.

¿ De fato, como o caso da Carminha Jerominho, este é um problema que a gente vai ter que avançar mais. Embora tenha sido divulgado que ela foi presa, a população resolveu conduzi-la para a Câmara. Acho que isso é um problema, uma questão que realmente preocupa. O eleitor ainda não se sensibilizou de evitar o voto nessas pessoas ¿ disse Ricardo Ismael.

De acordo com a historiadora do CPDoc da FGV, Marly Motta, especialista em política contemporânea do Rio, outro problema das alianças pode se dar em eventual postura do novo perfeito em relação aos vereadores donos de centros sociais:

- Nesse ponto, a renovação me parece que foi baixa. E a recordista dos votos, Lucinha tem centros sociais. Os vereadores, com pouquíssimas exceções, têm centros sociais. Nem o Eduardo Paes nem o Gabeira tocaram na questão dos centros sociais. Esses centros costumam se sustentar com o apoio as prefeitura.