O Estado de São Paulo, n.46356, 17/09/2020. Metrópole, p.A11

 

Posse de ministro tem crítica ao isolamento social

Marlla Sabino

Emilly Benke

Jussara Soares

17/09/2020

 

 

Ao efetivar Pazuello como chefe da Saúde após quase 4 meses, Bolsonaro criticou Mandetta; também houve defesa da cloroquina

Após 122 dias na condição de interino, o general Eduardo Pazuello tomou posse ontem como ministro da Saúde e disse na cerimônia que o mote "Fique em Casa" não era o melhor remédio para o tratamento do coronavírus. Na mesma linha, o presidente Jair Bolsonaro usou a solenidade, no Palácio do Planalto, para defender suas decisões na condução da crise da covid-19, que contrariaram orientações de autoridades sanitárias em todo o mundo.

Bolsonaro pregou novamente o uso da cloroquina, criticou o isolamento social e governadores que adotaram a quarentena, além do ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. O slogan "Fique em Casa" foi criado na gestão de Mandetta, demitido em abril, após vários embates com o presidente.

Pazuello é o 3º titular da Saúde da gestão Bolsonaro. Passou a comandar a pasta após a saída do médico Nelson Teich, que ficou menos de um mês no cargo, e da demissão de Mandetta. Ontem, ele não quis dizer se vai passar para a reserva do Exército. "Reserva é uma possibilidade, não uma obrigação." A presença de um militar da ativa em postos do primeiro escalão do governo gera incômodo entre integrantes das Forças Armadas.

Em seu primeiro discurso após ser efetivado como ministro, Pazuello pregou a necessidade de diagnóstico precoce no tratamento de pacientes de coronavírus e disse que as pessoas não deveriam ficar em casa "esperando a falta de ar".

O ministro afirmou que o "Fica em Casa" não era o melhor remédio. "O aprendizado, ao longo da pandemia, nos mostrou que quanto mais cedo atendermos os pacientes, melhor. O tratamento precoce salva vida. Por isso, temos falado dia após dia: 'Não fique em casa esperando falta de ar. Procure um médico logo após os primeiros sintomas'", destacou Pazuello, ao assegurar que o governo está "preparado" para enfrentar o período posterior à pandemia.

Conforme o ministro, o governo avalia várias vacinas, e não só a produzida pela Universidade de Oxford e a Astrazeneca, que têm acordo com o governo. "Não medimos esforços na busca da vacina. Uma vacina segura e comprovadamente eficaz o mais rápido possível e para todos os brasileiros", disse Pazuello, que voltou a prever o início da vacinação em janeiro, embora os testes do imunizante ainda estejam em andamento. Ele também disse que ainda não há uma estratégia fechada de vacinação.

Bolsonaro, por sua vez, disse que a pandemia poderia ter sido tratada de forma diferente e criticou o fechamento do comércio e das escolas. "Não sou palpiteiro, converso com meus ministros e, na maioria das vezes, de forma reservada, onde procuramos nos acertar. Com o ministro da Saúde anterior nada foi resolvido nas nossas conversas. Aprendi que pior que uma decisão mal tomada, é uma indecisão", afirmou.

Foi nesse momento que Bolsonaro citou divergências com Mandetta. "O primeiro problema com o primeiro ministro (Mandetta) foi a questão da nossa conhecida hidroxicloroquina. Aceito mesmo não sendo médico qualquer crítica a ela, mas por parte de pessoas que possam apresentar uma alternativa", disse ele, que também falou em "mídia catastrófica".

A hidroxicloroquina tem sido defendida pela gestão Bolsonaro como um remédio efetivo para tratar a covid-19. Estudos científicos, porém, não apontam a eficácia do medicamento.

Bolsonaro também fez sinalizações políticas ao ministro da Economia, Paulo Guedes, com quem tem tido atritos nos últimas semanas. Elogiou medidas de isenção de impostos de remédios, como os com base em vitamina D. "Quero cumprimentar a equipe econômica desse ministro Guedes, que tomou uma série de medidas para conter (a perda de) empregos no Brasil."

Kit covid. Pazuello ainda confirmou ontem que está em discussão o fornecimento de cloroquina no Programa Aqui Tem Farmácia Popular, conforme o Estadão mostrou esta semana. "Isso está sendo discutido também no programa Aqui Tem Farmácia Popular, uma estrutura não só de cloroquina."

Espera

122 dias

esteve como interino no ministério da Saúde o general Eduardo Pazuello. Ele assumiu a pasta em 15 de maio, logo após a saída do médico Nelson Teich, sucessor de Henrique Mandetta