O Estado de São Paulo, n.46356, 17/09/2020. Economia, p.B6

 

Europeus cobram ação contra desmate​

André Marinho

17/09/2020

 

 

Em carta endereçada a Hamilton Mourão, oito países afirmam que desmatamento na Amazônica dificulta compra de produtos do Brasil

Em carta ao vice-presidente Hamilton Mourão, que comanda o Conselho Nacional da Amazônia, oito países da Europa cobraram do governo brasileiro "ações reais imediatas" para conter o avanço do desmatamento na região. Ainda segundo o documento, a atual situação está tornando cada vez mais difícil a compra de produtos brasileiros ou novos investimentos no País.

O documento é assinado pelos sete integrantes da chamada Parceria das Declarações de Amsterdã: Alemanha, Dinamarca, França, Itália, Noruega, Holanda e Reino Unido. A Bélgica também se juntou ao chamado.

Na última terça-feira, o governo já havia recebido carta com o apoio de 230 organizações e empresas ligadas ao meio ambiente e ao agronegócio com seis propostas para combater a destruição da floresta. Da pauta, constam, por exemplo, o pedido de retomada e intensificação da fiscalização e a suspensão de registros que incidem sobre florestas públicas. A cobrança fez Mourão se reunir ontem com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e a ministra da Agricultura, Tereza Cristina.

'Alarmante'. O grupo de países europeus expressou preocupação com o aumento considerado "alarmante" do desmate da Amazônia. "Sem dúvidas, isso confirma a importância fundamental de garantir que os órgãos governamentais nacionais possuam a capacidade adequada para monitorar essas tendências e aplicar as devidas leis", afirmaram.

Os países acrescentaram que no continente europeu há um interesse da sociedade para que redes produtivas de alimentos tenham origem em bases sustentáveis. "Enquanto os esforços europeus buscam cadeias de suprimento não vinculadas ao desflorestamento, a atual tendência crescente de desflorestamento no Brasil está tornando cada vez mais difícil para empresas e investidores atender a seus critérios ambientais, sociais e de governança", ressaltaram.

A carta afirma ainda que, no passado, o Brasil foi capaz de reduzir o desmatamento e expandir a produção agrícola ao mesmo tempo. "Os países que se reúnem através da Parceria das Declarações de Amsterdã contam com um compromisso político firme e renovado por parte do governo brasileiro para reduzir o desflorestamento e esperam que isso se reflita em ações reais imediatas", cobraram.

O grupo ainda enfatizou que está disposto a abrir canais de diálogo com agentes dos mercados de commodities, entre eles produtores, negociantes e importadores, assim como legisladores, povos indígenas e cientistas. "Isso também contribuirá para o estabelecimento de um setor agrícola próspero e saudável."

O documento foi divulgado em um momento em que a política ambiental brasileira é apontada como empecilho para o fechamento de um acordo comercial entre o bloco de países da União Europeia com o Mercosul.

'Dificuldade' 

"O desflorestamento está tornando cada vez mais difícil para empresas e investidores atender a seus critérios ambientais, sociais e de governança."

Trecho da carta