Correio braziliense, n. 21026, 18/12/2020. Política, p. 4

 

DEM E PT buscam aproximação

Wesley Oliveira 

18/12/2020

 

 

Desde sempre em campos opostos na política, DEM e PT agora fazem acenos mútuos na disputa pela Câmara dos Deputados. Em uma ponta, o atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (RJ) tenta atrair o partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para fortalecer a candidatura do seu sucessor. Já a bancada do PT busca mais espaço dentro do Legislativo para reforçar a oposição ao governo Bolsonaro.

No PT, essa aproximação é defendida pela ala mais pragmática da sigla. A bancada estava rachada na disputa pelo comando da Câmara, e uma parte dos deputados defendia apoiar a candidatura de Arthur Lira (PP-AL), mesmo ele sendo apontado como o candidato de Bolsonaro. Como forma de rechaçar essa ideia, os caciques petistas descartaram qualquer aproximação com o deputado alagoano. Ontem, após reunião com integrantes de outros partidos da esquerda, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, afirmou que a sigla estava cogitando aderir à candidatura de centro.

"Achamos que realmente dá para ir para esse bloco de centro. Temos divergências na área econômica, mas temos convergência na defesa da democracia e em pautas como meio ambiente, por exemplo. Fechado o bloco, encerra-se a parte administrativa", afirmou. Ela havia rechaçado qualquer possibilidade da oposição apoiar o "candidato do Bolsonaro".

Apesar dessa ofensiva contra Lira, outros integrantes do PT ainda resistem a fechar um apoio formal ao candidato a ser indicado por Rodrigo Maia. O grupo tenta articular um nome próprio com apoio da oposição, mas isso não tem o aval de demais partidos.

"A bancada vai se reunir novamente, nos próximos dias, para tomar uma atitude definitiva. Vamos saber se vai haver candidatura própria da esquerda ou se apoiaremos o nome que vier a ser indicado pelo Rodrigo Maia", adiantou o líder do PT na Câmara, Enio Verri (PR).

Falta de votos
Integrantes do PT reconhecem que a oposição não tem votos suficientes para ter uma candidatura própria e, por isso, uma aliança com o presidente da Câmara seria o melhor caminho para ganhar mais espaço na Mesa Diretora e ainda abocanhar a presidência de comissões importantes. "Tem uma parte do PT que não entendeu ainda que se aliar a Maia é o melhor caminho. Com a oposição junta, teremos mais chances de derrotar o Lira e garantir que as pautas conservadoras do Bolsonaro não avancem", afirmou um integrante do PT ao Correio, sob a condição de anonimato.

A ideia do PT de lançar uma candidatura de oposição é descartada por PSB, PDT e PCdoB. Essas siglas estão mais inclinadas a apoiar o nome a ser indicado por Maia. "Não há a menor chance de um candidato do nosso campo, de esquerda, vencer as eleições na Câmara com a atual composição do parlamento. Não faz sentido lançar candidato no primeiro turno torcendo para ele não ir para o segundo. Porque, se for, vai perder para o candidato de Bolsonaro", admitiu o líder do PSB na Câmara, Alessandro Molon (RJ).

O PSol, com 10 deputados, é a sigla que vem insistindo na candidatura própria, sob a argumentação de "marcar posição", mesmo com poucas chances de vitória. Mas, no encontro de ontem, sinalizou que, se houver chances de Lira vencer no primeiro turno, abrirá mão da candidatura para apoiar o nome de Rodrigo Maia. O partido, no entanto, reforçou que esse movimento só será feito perto da eleição, em fevereiro.

"Do lado de lá, há unidade. No campo contra ele, é preciso haver também. Nossa pulverização fortalece Bolsonaro", reconheceu Molon.

Nos bastidores, interlocutores de Maia afirmam que ele aguarda a decisão do PT para cravar o nome do seu candidato. No páreo, estão os deputados Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) e Baleia Rossi (MDB-SP). Com a ida do Republicanos, com 31 parlamentares, para o bloco de Lira, o presidente da Câmara vê, na oposição, sua chance de derrotar o líder do Centrão.