Título: Leilão do BC não supre escassez de dólar
Autor: Aliski, Ayr
Fonte: Jornal do Brasil, 08/10/2008, Tema do Dia, p. A4
SÃO PAULO
A grave falta de liquidez que atinge o mercado foi a causa do aumento de 5% registrado pelo dólar comercial ontem. A escassez da moeda dólar ou real deve manter a cotação em alta até o início das operações de compra das carteiras dos bancos pequenos, prevista para acontecer entre dois e três dias. De qualquer modo, a alta da moeda americana deve pressionar aumentos de preços. Neste cenário de corrida por dinheiro, sai de cena o especulador e, surgem com força os movimentos de desespeculação, ou seja, a desmontagem das posições especulativas.
A chave é liquidez, não há disponibilidade de moeda estrangeira no mercado e há uma escassez grande de reais no momento diz Emílio Garofalo, economista e ex-diretor do Banco Central (BC). Segundo ele, o leilão feito ontem pela autoridade monetária não teve o efeito desejado porque os bancos se interessam pelos dólares mas têm que dispor de reais, tão raros quanto os dólares. Há bons motivos para a moeda ter se evaporado. Primeiro as captações externas de empresas e bancos brasileiros que estão vencendo e são pagas em dólar.
Outro fator são as posições vendidas de empresas, fundos e investidores no câmbio que apostaram na valorização do real e com o vencimento, têm que comprar dólar diz Ricardo Rocha, professor de finanças do Ibmec/São Paulo, ao lembrar de empresas que não operavam hedge e passaram a fazer. Sobre a remessa de recursos de filiais brasileiras para suas matrizes no exterior, outra fonte de saída da moeda, Rocha cobra mais rigor do Banco Central.
O BC tem que avaliar até que ponto vale a pena gastar as reservas. A prioridade é tranquilizar a liquidez para a economia brasileira e não ficar dando saída para investidor estrangeiro. Se por um lado a alta do dólar pressiona os preços, por outro, há a queda das commodities, que aliviam os custos. É muito rápido o processo, muito violento e alguma inflação haverá.
Neste cenário de moeda rarefeita, quem sai de cena é o especulador. Sai porque gosta de fazer posições rápidas e não vai dar liquidez para quem quer comprar dólar. Ele trabalha na venda da moeda, no cenário de volatilidade sem razão macroeconômica, baseado em boatos diz Rocha. Nos últimos dois, três dias, tem muito mais desespeculação do que especulação.