Título: Perdas da Bovespa no ano chegam a 37,2%
Autor: Aliski, Ayr
Fonte: Jornal do Brasil, 08/10/2008, Tema do Dia, p. A4
Queda de 4,66% leva bolsa ao menor nível desde 2006.
BRASÍLIA
A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) já acumula perdas de quase 40% (37,2%) no ano com os sucessivos tombos dos últimos dias. Ontem, nem a ação conjunta dos seis principais bancos centrais do planeta conseguiu segurar a retração das Bolsas americanas, o que fez a Bovespa desabar. O câmbio disparou e bateu a cotação de R$ 2,31, maior cotação desde maio de 2006. O mercado está muito nervoso e trabalhando no escuro.
O investidor parece que perdeu até a vontade de ganhar dinheiro comenta Fábio Prandini, operador da corretora Elite, numa síntese do espírito predominante entre os participantes da Bolsa de Valores. O "termômetro" desse mercado, o índice Ibovespa, despencou 4,66% e alcançou os 40.139 pontos, o nível mais baixo desde 1º de novembro de 2006. O giro financeiro foi de R$ 5,26 bilhões. Em geral, a variação do índice Dow Jones, que teve forte queda de 5,11%, costuma ser menos ampla que o Ibovespa. A "inversão" aponta para investidores sem disposição de correr riscos e voltar às compras. Ninguém sabe realmente qual o tamanho das perdas (dos bancos) com os créditos `subprimes".
Enquanto continuar assim, o mercado continua complicado diz o operador da Elite. E muita gente tem comentado que os efeitos das principais atitudes já tomadas pelos governos (dos EUA e da Europa) só começam a fazer efeito a partir da segunda metade de novembro. No câmbio, os dois leilões realizados pelo Banco Central não foram suficientes para conter a disparada das taxas. O dólar comercial foi cotado a R$ 2,311, em forte alta de 5,14%.
Analistas afirmam que a cotação está bastante inflada pela especulação predominante na praça financeira e que a cotação a esse nível não é sustentável. No curto prazo, no entanto, operadores já comentam que o preço da moeda americana pode atingir R$ 2,40. Não é um problema que está localizado num determinado país ou num determinado continente. É sistêmico e já contaminou todo mundo avalia Ideaki Iha, profissional da corretora Fair, que evita em falar de preços para a moeda americana.
BNDES: cenário positivo
O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, disse ontem que não vislumbra uma desaceleração forte da economia brasileira em meio ao cenário turbulento econômico mundial. Para Coutinho, há plenas condições para que haja uma trajetória "satisfatória" de crescimento. Não há nenhuma razão para a economia brasileira se deixar contaminar e desacelerar substancialmente seu crescimento avaliou Coutinho.
A economia tem condições plenas de manter uma trajetória satisfatória de crescimento mesmo em cenário conturbado nos países desenvolvidos. Para quanto a taxa de crescimento vai cair, é cedo para dizer, mas não há razão para jogarmos a toalha mais uma vez. O executivo evitou fazer previsões sobre a variação da necessidade de recursos do banco para 2009.
Ao mesmo tempo em que as linhas de crédito estão mais "ariscas" e fechadas, o que aumentaria a demanda sobre o banco, Coutinho disse não saber se a demanda vai realmente crescer com tanta firmeza. Ele acrescentou que uma avaliação mais aprofundada sobre os efeitos da crise só poderá ser feita dentro de 3 a 4 meses.